11. A Bruxa e O Fogo
POV Merida
Minha cabeça doía e alguém segura minha mão direita. Eu abri os olhos, mas só vi a escuridão. Os fechei e os abri novamente, três figuras distorcidas pairavam sobre mim.
“Ela está recuperando os sentidos.” Disse uma voz que eu reconheci sendo a de Soluço
Fechei os olhos e os abri mais uma vez, vendo agora com clareza. Estava deitada na minha cama, no quarto improvisado na biblioteca. Soluço estava sentado numa cadeira próxima à cabeceira da cama, era ele quem segurava minha mão. Jack e Rapunzel estavam sentados aos pés da cama. Eu me sentei e olhei para meus amigos que estavam preocupados.
“Quem fez isso em seu cabelo?” Questionei a Rapunzel
O longo cabelo dela agora estava preso em uma grossa trança cheia de flores de vários tipos diferentes. Quem fez aquilo tinha habilidade e é claro uma mente bastante criativa. Por algum motivo o garoto do gelo riu.
“Ela gritou a noite inteira e pergunta o que a loirinha fez com o cabelo. Francamente.”
“Jack. Ela acordou agora, lógico que ela não sabe de nada do que aconteceu durante a noite.” Soluço disse me defendendo
Sorri um pouco sem jeito para ele, mas meu sorriso se desfez quando as palavras do idiota do Frost entraram nos meus ouvidos. “Ela gritou a noite toda...”
“Eu gritei a noite toda?” Perguntei aumentando minha voz
Jack parou de rir e assentiu.
“Soluço deduziu que estava tendo um pesadelo. Tentamos acordá-la, mas...”
“... não conseguimos.” Rapunzel terminou “Era como se você estivesse presa no sonho ou algo do tipo. Decidimos ficar acordados e esperar seu pesadelo passar, foram longas horas de espera.”
“Quando Soluço segurou sua mão você pareceu se acalmar, um pouco.” Jack comentou e trocou um sorriso com Rapunzel, que por algum motivo me fez enrubescer.
“Você está bem?” Perguntou-me Soluço
“Minha cabeça está doendo um pouco.” Admiti
“Então, faísca. Como era seu pesadelo?” O Picolé me perguntou
Minha mão direita se separou da de Soluço e se fechou em punho. O viking a agarrou e começou a tentar abri-la novamente, resisti um pouco, até que pensei que não ajudaria em nada, eu socar a cara do Frost. Rapunzel deu uma cotovelada nas costelas do idiota gelado, o que me fez gostar mais dela.
“Jack!” Ela o censurou
“Ai.” Reclamou ele se encolhendo por causa da dor “Ok, certo. Desculpe-me Merida, me esqueci que estamos falando de pesadelos e não de sonhos.”
Eu ainda queria socar a cara dele, mas ele me chamou pelo meu nome o que me acalmou. Um pouco.
“Você não precisa contar, se não quiser.” Soluço falou
Olhei para ele e depois para os outros. Fechei meus olhos e o pesadelo tomou conta da minha mente.
“Eu estou andando por uma floresta em chamas, mas elas não me machucam.” Comecei a contar “Há um vulto entre as arvores. Eu corro e caiu em um buraco profundo. Está escuro, até que uma luz dourada surge atrás de mim, iluminando o caminho na minha frente...”
“É a...” Jack começou a me interromper mais foi silenciado
“Sigo por um corredor escuro e me deparo com uma sala oval. No centro dela, cravado na pedra há um cajado feito de madeira vermelha, com um cristal amarelo em sua ponta. Eu sinto ele me chamar e caminho até ele.” Continuei com um bolo se formando na minha garganta. “A luz amarela atrás de mim desaparece e eu me deparo com uma mulher encapuzada. Sua pele é branca, ela usa um vestido preto, tem lábios vermelhos e olhos negros tão negros quanto às trevas. A estranha agarra meu pulso esquerdo e diz: ‘As chamas antigas não lhe queimaram, mas pela minha mão você irá arder. ’ Sinto meu pulso queimar, assim como todas as fibras do meu corpo. Eu grito de dor e a bruxa ri. Minha visão fica escura e eu só vejo as trevas.”
Lagrimas escorreram dos meus olhos fechados, eu os abri e olhei para meus amigos. Soluço num ato inesperado me abraçou. Repousei minha cabeça em seu ombro e chorei. Duas mãos tocaram meu ombro, uma era mais fria que a outra.
“Desculpe.” Jack murmurou
Alguns segundos se passaram, me afastei de Soluço e enxuguei minhas lagrimas.
“Meu cajado se revelou numa situação de vida ou morte.” Rapunzel comentou e nos entendemos o que ela queria dizer
O meu sonho foi uma previa do que iria acontecer. Ele me mostrou qual prova, eu teria de passar para consegui achar meu cajado. Assim como a de Rapunzel era de vida ou morte, porém era pior do que a dela. E a depois da minha seria pior ainda. Respirei fundo.
“Eu tenho que encontrar essa floresta em chamas. Mas terei de ir sozinha.”
“Nem pensar. Você não vai lutar com bruxa sozinha. Eu vou com você.” Soluço bradou
“Nós vamos com você.” Corrigiu Jack
“É perigoso demais.” Falei irritada
“Nós somos uma equipe Merida.” Lembrou-me Rapunzel “Há um motivo para o Homem da Lua nos reunir é por que juntos somos mais fortes.”
“E juntos superamos qualquer coisa.” Jack completou sorrindo para mim
Olhei aflita para os três. Nada nesse mundo iria fazê-los mudar de idéia.
“Ok. Vocês podem vir comigo” Disse derrotada
......................................................................................................................
“É um pequeno bosque agora, já que poucas árvores sobreviveram. Isso aconteceu há uns 18 para 19 anos se eu não me engane.” Jack me explicou apontando para um ponto no mapa
“Humm, acho que é um pouco longe daqui.” Comentei observando a distancia entre a oficina e o bosque
Jack coçou a cabeça e sugeriu:
“Nós podemos pegar as renas do Norte e ir até lá. Ou podemos usar um portal. O que você prefere?”
Parei e analisei. Nas renas poderíamos sofrer algum ataque, mas se usássemos o portal a bruxa poderia nos encontrar.
“Das duas formas, Breu nos encontra.” Falei desanimada “Acho que é melhor escolher a mais rápida e pratica.”
Jack sorriu e disse animado: “Portal, então.”
......................................................................................................................
“Ótimo, fique aqui então. É um a menos para eu me preocupar.” Falei irritada
Estávamos na sala do globo. Rapunzel alheia a discussão entre mim e Soluço, segurava seu cajado, que agora estava no tamanho de um cetro. O cabelo dela ainda estava trançado. Ela me explicou que aquilo tinha sido idéia dela e os yetis a ajudaram.
“Eu vou e o Banguela vem junto.” Soluço afirmou decidido
“Não. Você vai e o Banguela fica.” Disse Jack entrando na sala com dois globos de neve na mão.
“Fique fora disso Frost!” Berrei “Espera você disse o que?”
“Ele vai e o Banguela fica.” Jack repetiu modificando as palavras “É perigoso demais para seu dragão Soluço.”
“Dois contra um Soluço.” Cantarolei animada
“Não. Isso não é justo.” Reclamou ele “Rapunzel, você está do meu lado não é? ’
“Não me meta nessa briga.” A loira disse erguendo sua mão livre
“O voto dela é nulo.” Afirmei “O Banguela fica.”
Soluço olhou para seu dragão e o dragão olhou para ele. Quase desmoronei com aquela troca de olhares, mas era mais seguro para o Banguela se ele ficasse aqui. E ele ficaria. Mesmo que o Soluço me odiasse por isso.
Jack pigarreou atraindo nossa atenção e jogou o globo de neve no chão a sua frente.
“Não vai ficar aberto por muito tempo.” Ele nos avisou e atravessou pelo portal
Rapunzel pegou sua frigideira do chão e estendeu para Soluço que pegou um tanto desanimado. A loira atravessou o portal e o viking a seguiu. Olhei para Banguela que tinha o olhar triste.
“Desculpe-me” Sussurrei atravessando o portal que começava a se fechar
O Bosque Queimado era horrível. O incêndio tinha sido há mais de 18 anos e o local ainda tinha cheiro de fumaça. Quando atravessei, encontrei Jack apoiado no seu cajado um tanto fraco e abatido com o braço direito apoiado nos ombros de Rapunzel.
“Só foi um mal estar loirinha.” Disse ele tentando sem sucesso parecer bem
“É melhor o Jack voltar.” Soluço sugeriu preocupado
“Não. Somos um quarteto, isso que significa que somos quatro não três.” Jack disse e acrescentou com um sorriso: “Além disso, só temos um portal sobrando.”
Eu bati com a mão em minha própria testa. Ele só tinha trazido só um portal. Isso era tão... Frost!
“Você fica então.” Falei respirando pela boca. ”Mas é melhor começarmos a procurar o cajado. Quanto mais rápido encontrarmos, mais cedo voltaremos.”
Rapunzel assentiu.
“No seu sonho você era acompanhada por um brilho dourado que iluminava seu caminho, o que significa que eu devo ir com você.”
“Não. No sonho você desaparecia. E se nessa hora você...” Engoli em seco não conseguindo completar a frase
A loira parecia esperar por minha negação.
“Não acho que seja minha hora. Mas se for, deixarei o mundo dos vivos sabendo que tive ótimos amigos.”
Olhei para Rapunzel, que estava decidida. Soluço pareceu perceber minha derrota e andou até Jack.
“Vamos lá guardião. Temos um cajado para procurar.” Disse ele trocando os ombros de Rapunzel pelos seus
Os dois saíram se arrastando pela neve, seguindo para o norte. Rapunzel olhou para eles e em seguida para mim.
“Obrigado, Rapunzel.” Disse agradecida
“Amigos, servem para isso.” Disse ela com um sorriso “Pelo pouco que lhe conheço acho que você vai dizer que devemos seguir para lá. Não é?
Olhei para a direção que ela apontava. Era o sul.
“Sim, nos vamos por ali.” Respondi com certo desanimo
A direção que tomamos foi sinistra. Parecia que ali que tinha sido o epicentro do incêndio. Árvores completamente destruídas, um cheiro forte de fumaça. De alguma forma Rapunzel e eu conseguimos respirar. Talvez tivesse haver com os vulcões que existiam em baixo da terra. Já estávamos andando há alguns minutos, quando ouvimos um grito vindo do Norte.
“Jack!” Rapunzel gritou alarmada
“Como você sabe que foi o Jack?” Perguntei confusa “Poderia ter sido o Soluço.”
“Eu conheço a voz do Jack. Foi ele.” A loira respondeu angustiada
“Jack está com um Soluço, que está munido da arma mais letal da terra.”
“Ele está com uma frigideira, Merida!” Rapunzel exclamou
“Exatamente! Conhece arma melhor?”
A loira abriu a boca provavelmente para discordar de mim, mas pensou melhor e ficou calada.
“Eles vão sobreviver.” A tranqüilizei e completei mentalmente Ao contrario de nós.
Continuamos a andar e chegado a um determinado ponto, o cetro de Rapunzel emitiu uma luz dourada e voltou a sua forma de cajado.
“Merida, você viu...”
Rapunzel se calou e seguiu o meu olhar, que estava direcionado a um grande buraco no chão a alguns metros a nossa frente. Engoli em seco e caminhei com a loira até ele. Aproximei-me da borda e Rapunzel pegou minha mão. Demos um passo para dentro do buraco, caindo de cara no chão.
“Ai. Isso não foi agradável.” Rapunzel reclamou enquanto eu a ajudava a levantar
O lugar era diferente do meu sonho. Parecia ser iluminado pela luz da lua e era frio e úmido. Olhei para Rapunzel e fiquei paralisada de surpresa.
As flores que estavam no seu cabelo, começaram a deslizar pelos fios loiros e desaparecer em meio às mechas que caiam. Rapunzel começou a cantarolar e seu cabelo voltou a ganhar o brilho dourado. Ela olhou para mim e sorriu. Agarrei sua mão e a puxei pelo túnel que era iluminado pelos fios da loira
Não levamos muito tempo para encontrar a sala, que era idêntica ao meu sonho. A maldita bruxa de vestes negras estava em pé ao lado do meu cajado.
“Você demorou.” Ela disse com uma voz fria e balançou a mão para frente na direção de Rapunzel fazendo com que a garota refizesse seu caminho pelo túnel.
A bruxa fez um movimento para cima com a mão e pude ouvir o grito de Rapunzel a distancia.
“Não queremos que ninguém nos atrapalhe, certo Merida?”
No meu sonho tentei pegar o cajado, mas a bruxa foi mais rápida e me queimou. Lógico que eu não iria cometer o mesmo erro duas vezes.
“Você sabe meu nome. Mas eu não sei o seu.” Falei tentando enrolá-la para ganhar tempo
“Notasse.” A bruxa comentou
“Então? Qual é o seu nome?”
“Por que é tão importante para você. Saber como eu me chamo?”
“Nomes revelam quem você é. Merida, por exemplo, quer dizer quem tem mérito, está também relacionado com soldados valentes. E eu sou valente.”
A bruxa me olhou de cima a baixo.
“Meu nome é Gothel. E ele quer dizer saúde, beleza. Juventude...”
Eu olhei para bruxa que não era muito nova, mas também não muito velha.
“Chega de enrolação Merida. Você está aqui pelo cajado e eu não pode deixar você sair daqui com ele.”
Merda... agora que eu morro. Pensei comigo mesmo e ocorreu-me uma idéia.
“Vamos fazer um trato Gothel. Iremos duelar. Se eu vencer eu saiu com o cajado. Mas eu se eu perder...”
“Eu lhe mato!”
Assenti com a garganta seca e uma espada de prata apareceu na mão da bruxa.
“Você não tem espada não é?”
Antes que eu pudesse responder, a espada do meu pai apareceu na minha mão.
Fiz um movimento de ataque e ela de defesa. As laminas se encontraram e depois se separaram. Ela avançou atacando meu flanco direito. Eu desviei e ataquei o flanco esquerdo dela, fazendo uma parte do vestido preto rasgar.
Gothel se afastou rapidamente, e me atacou. Defendi-me e minha espada se cruzou com a dela. Fiz um movimento rápido de desarme e a espada dela caiu no chão.
“Ganhei.” Disse alto e claro, sabendo que ela não ia se dar por vencida
A bruxa sorriu e avançou com uma adaga para cima de mim. Me abaixei passando por ela e correndo ate o cajado. Eu já minha mãos esquerda sob ele, quando senti algo me puxar por trás. Tentei resistir, mas a magia de Gothel era mais forte e me levou para o chão, fazendo minha espada cair.
“Eu nunca perco, Merida.”
Gothel andou até mim e se abaixou, agarrando meu pulso esquerdo.
“Acho que você sabe o que acontece agora.”
Comecei a ferver por dentro, mas não era por causa de Gothel. Não era algo maior. A bruxa apertou meu pulso e aproximou a adaga do pescoço. Sem pensar eu gritei:
“Chama do Verão!”
Um estrondo ecoou na caverna e o cajado voou para minha mão direita. Senti uma força despertar em dentro de mim e Gothel urrou.
“Maldita! Maldita! Está me queimando!”
Olhei para o braço de Gothel que estava pegando fogo. Libertei meu pulso do aperto da bruxa e me levantei. A caverna, o corredor, tudo o que meus olhos alcançavam estavam em chamas. Mas assim como no meu sonho, elas não me feriam. Corri para saída, parei e voltei. Abaixei-me e peguei a espada do meu pai.
“Não! Não leve isso!” Gothel urrou em meio às chamas.
Coloquei a espada na aljava de flechas e corri pelo corredor, já estava perto da entrada do buraco, quando o corredor começou a desmoronar. Uma avalanche de terra caiu em cima de mim e a ultima coisa que vi, foi à escuridão.
Comentários