1. O Retorno das Trevas
POV Jack
Era um dia como qualquer outro.
Entrei sem ser convidado na oficina do Norte. Os yetis trabalhavam a todo vapor, apesar de faltar alguns meses para o Natal. Pousei suavemente na frente do globo e comecei a farra. Afinal, meu cerne é diversão.
Com um sorriso, fiz uma rajada de gelo congelar as engrenagens dos robôs em que Phil e Mourisse trabalhavam. Neve começou a cair e umas dúzias de yetis vieram na minha direção grunhindo o que parecia ser meu nome.
Corri deixando que a ponta do meu cajado tocasse o chão atrás de mim, criando uma camada fina de gelo. Como previ, os yetis escorregaram e se amontoaram uns sob os outros. Eu já cantava vitoria quando Phil agarrou a gola de minha camisa e me suspendeu no ar.
“Ei, cara!” Reclamei e lancei acidentalmente uma rajada de gelo na direção do globo.
O yeti fez uma cara assustada e me largou de imediato no chão. Aproveitei a oportunidade e entrei na primeira sala que vi. Deparando-me com uma cena, que sem duvida merecia uma foto; Norte dormia de boca aberta em sua poltrona e tinha duendes sonolentos em seu colo. Havia baba em sua barba branca e ele roncava alto.
Olhei ao redor procurando uma câmera fotográfica e acabei encontrando uma jogada no canto da sala, perto da porta. Virei-me e peguei a câmera rapidamente. Era antiga e parecia ser uma daquelas maquinas fotográficas instantâneas. Foto na hora? Que sorte, hein?
Andei até a mesa de Norte e dei alguns passos para trás para pegar toda a cena. Com um sorriso travesso bati a foto, que saiu imediatamente. Peguei a foto nas mãos e a observei. Cara, estava perfeita! Então a porta do escritório se abriu e Norte acordou assustado. Não pedir a oportunidade e bati outra foto.
“Jack?” Norte disse confuso enxugando a baba que havia em sua barba.
“Bom dia cara.” Falei para Norte e virei dando de cara com Phil.
O yeti explodiu em uma linha de grunhidos e gemidos frenéticos que me fizeram franzir a testa.
“O Globo?” Norte perguntou se levantando. Ele passou por mim e pelo yeti e foi ver o Globo. Coloquei a maquina em cima da mesa do escritório, guardei as fotos dentro do meu casaco e o segui.
“Ah, bom! Não há nada de errado com o Globo. Está tudo em ordem, com certeza algumas luzes se apagaram, mas isso acontece todos os dias.”
Norte se virou e começou a voltar para o escritório. Foi quando meus olhos se arregalaram com a cena a minha frente. Phil correu de volta para Norte resmungando em pânico.
“Eu já lhe disse, não há nada errado.” Norte murmurou se virando e vendo a mesma cena que eu.
Uma areia negra se formava em torno do Globo engolindo-o por inteiro. Uma risada fria encheu o ar, fazendo com que os yetis parassem e olhassem para cima. Fora da nuvem de areia preta saiu um corpo esguio, também feito da mesma areia.
“A escuridão está retornando.” Disse uma voz astuta que eu conhecia muito bem.
“Breu.” Falei entre dentes.
“O que você está fazendo aqui?” Norte perguntou tirando suas espadas de batalha.
Breu apenas riu. Ergui uma sobrancelha quando mais três figuras surgiram. Uma delas tinha a forma de uma mulher adulta, já as outras duas não eram humanas. Uma delas era um urso imponente e monstruoso. E a outra era um volumoso e grande dragão.
Em questão de segundos, a nuvem de areia desapareceu tão rápido quanto veio. Norte rosnou e colocou suas espadas de volta nas bainhas, caminhando até o painel de controle do Globo, olhou a alavanca circular e suspirou.
Num movimento rápido ele agarrou o cabo da alavanca e com um toque de seu pulso a pressionou de volta para baixo.
A Invocação dos Guardiões havia começado.
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Já tinha se passado meia hora e ninguém havia chegado! Comecei a andar impaciente de um lado para o outro. Por que se tem uma coisa que detesto, é esperar alguém. Bom, eu também detesto não saber das coisas. Mas acho que esperar supera isso.
“Se você continuar a andar, vai fazer um buraco no chão.” Norte disse se encostando-se a uma viga da oficina.O ignorei e continuei a andar. Foi quando para minha alegria, a Fada entrou pela clarabóia rodeada por suas fadinhas.
“Jack!” Disse ela voando até mim e me abraçando com força.
“Oi Fada.” Falei com um sorriso bobo enquanto retribuía o abraço.
Um tanto séria, a Fada se afastou de mim e perguntou:
“Qual é o problema dessa vez?”
“Vou dizer logo.” Norte respondeu. “Deixe só os outros chegarem.”
A Fada suspirou e começou a conversar com as fadinhas sobre dentes. Norte revirou os olhos e eu voltei a andar em círculos. Passado alguns minutos Sandman chegou num tapete feito de areia dourada. Ele parecia confuso e assim que posou na oficina, uma interrogação apareceu no topo sua cabeça.
“O Norte já vai explicar.” Disse, me encostando no meu cajado. “Deixe só o canguru da páscoa chegar.”
“É coelho, rapaz!” Coelhão corrigiu surgindo de um dos cantos da oficina.
“Que seja! Cara, conte a eles.”
Norte se desencostou da viga e colocou as mãos na cintura.
“Breu voltou.” Norte disse solenemente e os outros guardiões arregalaram os olhos quando ele continuou: “Mas ele não é o único. Quando ele apareceu aqui, mais três estavam com ele.”.
“Quem?” perguntou a Fada do Dente com medo em sua voz.
Norte encolheu os ombros.
“Eu não tenho idéia, mas a partir das imagens que vi criada com areia preta do Breu, não parece ser bom. Vai ser muito difícil derrotá-lo desta vez, ele tem ajuda.”
Novamente um ponto de interrogação apareceu no topo da cabeça de Sandy e então a forma da Lua apareceu.
“Não Sandy,não perguntei a ele ainda.” Norte respondeu e coçou a barba, pensativo. “Mas eles me eram familiar.”
“Com quem eles se parecem, companheiro?” Coelhão perguntou cruzando os braços.
“Bem, um deles parecia ser uma mulher, mas desde que ela foi feita de areia preta, eu não poderia passar detalhes.” Norte respondeu. “As outras duas, se pareciam com animais, como um urso e um dragão gigante.”
Passei a mão pela minha nuca. Esse lance não fazia sentido para mim.
“Isso não faz nenhum sentido! Por que essa aliança com os outros?” Perguntei confuso.
Sandy parecia estar numa profunda reflexão. E do nada ele estalou os dedos e se virou para Norte. Uma flor se formou acima da sua cabeça e então a imagem mudou se transformando em um sol e em seguida numa folha.
“Se os...?” A Fada começou a dizer parecendo engasgada.
“Sandy, não é possível.” Norte disse franzindo a testa.“Nós nem sabemos quem os outros três são.”
“Eu nem acho que eles existem mais." Disse Coelhão descruzando os braços e começando a rodar um bumerangue no dedo.
"Do que vocês estão falando?" Perguntei cruzando os braços. Eu odiava ser o último a saber das coisas.
“São quatro; O Guardião da Primavera, protetor da Criatividade. O Guardião do Inverno, protetor de diversão. O Guardião do Verão, protetor da Coragem e o Guardião do Outono, protetor de mudança.” Norte me explicou balançando as mãos “Diz-se que, quando juntos eles criam uma força como nenhuma outra. Entretanto, é apenas uma lenda entre os Guardiões.”
“Mas Jack se encaixa na descrição do Guardião do Inverno, protetor da Diversão. Ele é o Guardião da diversão e do inverno!” A Fada exclamou animada.
“Isso é verdade, mas não sabemos quem ou onde os outros três estão.” Norte disse pensativo.
Começamos a discutir. Eu estava do lado da Fada. Se eu existia, então os outros também existiam. Já o canguru e o Norte achavam que eles poderiam existir, só que em outra época. O barulho de um sino, nos fez parar de discutir.
Sandy tinha uma seta que apontava para a lua visível pela clarabóia. Eu sorri, assim como a maioria dos guardiões.
“Bastava dizer Sandy.” Norte disse sorrindo, virando-se para a lua. “O que precisa nos dizer, meu amigo?” A luz da lua brilhou para baixo e se arrastou no chão de madeira, parando na Marca dos Guardiões, sobre o piso de madeira. O sigilo se abriu e um pedestal se levantou.
“Claro, o Homem da Lua certamente sabe quem os outros três são.” Disse a Fada parecendo emocionada. Aproximamos-nos e cercamos o pedestal.
“Tudo bem, velho amigo. Mostre-nos os outros três.”
Fora do pedestal veio a luz azul e se formou em uma figura. Parecia uma adolescente com cabelo muito longo e olhos grandes, a luz azul não mostrou mais detalhes, exceto uma flor por cima da cabeça da menina e uma torre atrás dela.
A imagem mudou para um menino de cabelo liso, que batia em seu queixo. Ele era um tanto magrelo e acima de sua cabeça apareceu uma folha, também havia uma vila de casas em estilo Viking atrás do menino.
A imagem se transformou em outra menina com o cabelo enrolados e rebelde acima de sua cabeça apareceu um sol, havia um circulo de pedra atrás dela.
A última imagem era a minha, só que apareceu um floco de neve acima da minha cabeça. A luz desapareceu e o pedestal afundou no chão, fechando sua entrada. Norte assentiu e se virou para nós.
“Eu estarei de volta em breve.” Ele disse indo para o elevador. “Preparem-se. A lenda do The Big Four vai ganhar vida.”
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