33. Promessas


POV Rapunzel
Eu não conseguia acreditar no que estava vendo. Bem ali, na minha frente, estava uma cena extremamente perturbadora para mim.
A oficina de Norte tinha sido totalmente destruída.
O globo havia desaparecido, assim como a claraboia, o telhado e as paredes de madeira. As únicas coisas intactas eram os andares inferiores, que agora eram visíveis através do grande buraco que abrigava o globo. Mas, a pior coisa da cena, eram os yetis, que estavam caídos pela neve visivelmente feridos e maltratados.
Sem o teto e as paredes o vento glacial agora nos atingia com força e o ar havia se tornado extremamente rarefeito.
“Mas, o que aconteceu aqui?” Soluço perguntou, com o queixo caído diante daquela cena.
“Os pesadelos de Breu estiveram aqui.” Norte disse, surgindo atrás de alguns entulhos de madeira com um saco vermelho na mão. “Eles surgiram na forma de traças enormes e venenosas. Comeram tudo que viam pela frente. Os yetis e eu lutamos, mas não conseguimos detê-las, como podem ver.”
“Mas, e agora? O que faremos? Como vamos voltar para casa?” Merida perguntou olhando, em choque, para a destruição a nossa frente.
“Agora nós vamos fazer o que sempre fizemos.” Norte afirmou sério e convicto. “Nós vamos nos reerguer.”
***
Sete dias haviam se passado desde a derrota de Breu. Os yetis estavam trabalhando a todo vapor para reerguer o andar superior da oficina, que estava parcialmente reconstruído. Felizmente as traças não conseguiram chegar ao andar de baixo, por isso os presentes estavam seguros e este ano haveria natal.
Desde o início dos sete dias, Merida e Soluço estavam ajudando Norte na reconstrução da fábrica, enquanto Jack ajudava o resto dos guardiões a acalmar os ânimos da população mundial, que estava alterada, pois achava que o mundo ainda estava acabando.
Sandman e a Fada do Dente estavam trabalhando juntos para apagar a memória dos humanos. O Sandman os incapacitava, enquanto a Fada, de alguma forma misteriosa, retirava as memórias deles. Mas esse trabalho iria levar um bom tempo para se feito, pois existiam mais de oito bilhões de humanos por todo o globo.
Infelizmente meus poderes não ajudavam muito os guardiões, por isso Norte acabou me empurrando para a grande biblioteca que havia no subsolo da fábrica onde eu acabei encontrando Pascal, que de algum modo inventou de se esconder ali. Como eu não precisava dormir ou comer acabei atacando os livros e lendo-os noite a fio. Só tinha consciência da passagem do tempo por causa do calendário e do relógio, que ficavam em cima de uma das mesas do lugar.
Eu estava buscando nos livros respostas para algumas de minhas perguntas. Como por exemplo: O que eram aquelas luzes que saiam dos nossos cajados? Como Breu conseguiu dar novas formas aos pesadelos? Por que a minha luz e a de Merida eram amarelas, enquanto a de Jack e Soluço eram azuis? Por que meu sangue se tornou dourado? Por que Jamie conseguia fazer a mesma areia que Sandman? O que eram as Crianças Remanescentes?
Essas eram só algumas das perguntas que rondavam minha mente e que eu ainda não estava conseguindo obter as respostas.
Estava na hora do pôr do sol e eu lia o livro dos guardiões pela milésima vez quando ouvi uma voz grave e arranhada dizer ao meu lado:
“Jack Frost está voltando.”
Ergui a cabeça tirando os olhos do livro e me deparei com yeti me olhando com curiosidade.
“O que você disse?” Perguntei confusa.
“Jack Frost está voltando.” O yeti Mourrisse repetiu numa voz esguichada.
“Eu entendi o que você falou.” Falei sem acreditar enquanto fitava o yeti que estava confuso.
Normalmente eu deduzia o que os yetis falavam e não os entendia letra por letra, como se estivesse falando com um ser humano normal.
“E isso é bom?” Mourrisse perguntou confuso, coçando a cabeça.
“Mas claro que é!” Exclamei alegre, pronta para pular de alegria. “Não sei como eu posso fazer isso, mas é muito bacana!”
“Se você diz.” Mourrisse concordou ainda confuso e deixou a biblioteca enquanto eu começava a dar pulinhos no ar.
“Você me lembra uma fadinha...” Lilith comentou, saindo da sombra de um canto da biblioteca com um sorriso amigável no rosto.
“Lilith!” Gritei alegre e pulei na direção da garota dando-lhe um abraço apertado. “Ah! Lili! Eu sabia que você não iria embora sem se despedir.”
“Bom, pelo menos não iria sem dizer adeus a você.” Lilith falou e se afastou de mim.
Notei que ela havia mudado de roupa. No lugar das leggins pretas, das meias listradas e do blusão comprido, havia uma saia vermelha, meias escuras, uma blusa preta e um espartilho bege. O cabelo também havia mudado, parecia mais sedoso e brilhante.
“Para onde vai desse jeito?” Perguntei, olhando Lilith de cima a baixo.
“Gostou? É meu novo visual.” Ela respondeu sorrindo. “Vou embarcar com ele numa missão.”
“Missão? Que missão?”
“A missão de cumprir uma promessa que eu deveria ter cumprido há um bom tempo.” A voz de Lilith soou meio seca quando ela respondeu. “Rapunzel? Você me promete uma coisa?”
“Claro, Lilith. O que você quiser...” Falei segurando as mãos geladas da filha do Breu.
“Se um dia você pensar que eu te trair... não dê ouvidos a este pensamento, ok?” O pedido soou como uma suplica. “Lembre que eu sempre estive ao seu lado e sempre estarei. Te protegendo e te guiando diante dos desafios que você enfrentar.”
“Pode deixar Lilith. Eu prometo que vou confiar em você. Apesar de tudo e de todos.” Prometi sendo sincera. “Afinal... você mesma que disse que somos irmãs. E irmãs confiam umas nas outras.”
Lilith sorriu e me abraçou, como se não fosse me ver nunca mais. Um sentimento estranho se formou em dentro de mim, pois, de certa forma, eu sabia que a perderia em breve. Lilith se afastou de mim e acariciou minha face, me olhando como se eu fosse sua irmã caçula.
“Promessa é divida, Rapunzel.” Ela sussurrou olhando no fundo de meus olhos. “Lembre-se disso.”
A filha do Breu sorriu e desapareceu em areia negra, deixando-me sozinha na biblioteca. Suspirei e já iria voltar para o meu livro quando um papel negro entrou pela janela da biblioteca. Ele rodopiou pelo ar perto de mim e eu o agarrei, lendo nele um nome que havia balbuciado uma vez.
“Clarion.” Falei em voz alta, sentindo que aquela poderia ser a chave para minhas perguntas.
“Quem é Clarion?” Perguntou uma voz que quase me fez ter um enfarte.
“Jack!” Gritei, correndo na direção dele e o agarrando pela gola da camisa enquanto depositava um beijo voraz em seus lábios.
O guardião retribui o beijo imediatamente, abraçando-me pela cintura e unindo nossos corpos.
“Senti sua falta.” Ele confessou, separando nossos lábios e me olhando com ternura. “Lembre-me de nunca mais sair de perto de você.”
Eu sorri de orelha e orelha e dei um beijo rápido em Jack, que tirou um globo de neve do bolso e jogou-o na nossa frente, abrindo um portal para um lugar claro, cheio de árvores e rochas.
“Para onde isso vai dar?” Perguntei curiosa e Jack apenas sorriu.
“Você confia em mim, certo?” Ele perguntou e eu assenti. “Ótimo. Então venha comigo.”
Atravessei o portal junto com Jack e me vi no alto de um grande penhasco coberto por uma grama verdejante. Havia grandes rochas ao nosso redor e uma corrente de fadinhas voava em direção a uma rocha solitária que havia a nossa frente.
“Onde estamos?”
“Nos arredores do Palácio da Fada.” Jack respondeu e me guiou para a borda do penhasco, onde havia uma grama tão verde e macia quanto um travesseiro de plumas. Nos sentamos no tapete natural e Frost segurou minhas mãos. “Norte conseguiu recuperar alguns de seus globos de neve. Por isso, queria ter um último momento ao seu lado, antes que ele te mandasse de volta para sua casa.”
“Oh, Jack isso é....” Comecei a dizer, mas Frost colocou um dedo em meus lábios.
“Não diga nada.” Ele me pediu sorrindo. “Pelo menos até eu te dar isso.”
Jack colocou a mão no bolso de seu moletom e tirou de lá um colar de prata, com um pingente azul no formato de um cristal de gelo. Levantei meus cabelos e Jack se inclinou na minha direção, colocando o colar no meu pescoço e se afastando com um olhar triste em seguida.
“Assim você sempre se lembrará de mim.” Ele disse com a voz distante e eu toquei o pingente frio e hipnotizante. “Ele combina com você.”
“Mas, é claro que combina.” Falei tomando o rosto de Jack em minhas mãos. “Ele representa você, não é?”
“É...” Jack sussurrou tristonho, querendo desviar os olhos para baixo. “Olha, Rapunzel, sei que nos temos pouco tempo como um casal, mas tenho que ser franco com você... Eu não te amo.”
Paralisei onde estava, pois Jack falava sério.
“Eu sou louco por você.” Jack explicou com um sorriso se espalhando pelo rosto. “A palavra ‘amor’ é fraca demais para explicar o que eu sinto por você. Acho que...”
Não deixei que ele terminasse e me lancei em sua direção, selando nossos lábios em um só. Jack me abraçou e retribui o beijo intensamente, fazendo o mundo parar ao meu redor. Eu não conseguia sentir mais nada além do toque de Jack em minha cintura, cabelos, pescoço...
Quando respirar se tornou insuportavelmente necessário, separamo-nos um do outro por um momento, antes de iniciarmos um novo beijo, ainda mais faminto e envolvente que o anterior.
“Nós vamos nos encontrar novamente! Basta esperar!” Prometi e Jack sorriu me abraçando com força, como se fosse me perder no próximo minuto.
“Pelo menos você irá partir por uma boa causa.” Jack sussurrou em meu ouvido, ainda me segurando com força. “Tenho inveja de seus pais.”
Eu ri e Jack me deu um beijo no pescoço, fazendo uma série arrepios percorrerem meu corpo.
“Nós podemos viajar através das estações sabia?”
“Hein?” Jack me fitou confuso, deixando a mão que estava em meu pescoço cair ao lado de seu corpo. “Como é que é?”
“As estações são como forças que regem o universo desde o inicio da criação. Por isso, se os Quatro Grandes quiserem, eles podem viajar pelo tempo, desde que sua estação reine sobre o lugar em que ele vá.” Expliquei e Jack imediatamente compreendeu.
“Então, se eu quisesse ir para a Grécia, eu poderia. Mas, só se lá fosse inverno, não é?” Ele perguntou e confirmei assentindo.
“Esse lance de viagem serve também para o presente.” Disse, completando a explicação. “Se, por exemplo, eu quisesse ir agora para o Brasil eu poderia ir numa boa, já que lá é primavera.”
“Bacana, mas como soube disso?”
“Li num livro da biblioteca.”
“Então, eu estou namorando uma CDF?” Jack disse parecendo brincar, mas logo tratou se desculpar quando viu minha careta de confusão. “Quero que saiba que eu não tenho nada contra, ok?”
“O que é uma CDF?” Perguntei coçando a cabeça e Jack suspirou.
“Sempre esqueço que você veio do passado...”
Acima de nós luzes violetas, azuis e verdes brilharam. Era o fenômeno que ocorria no Polo Norte e era conhecido como Aurora Boreal.
“Olha só que lindo, Jack.” Falei apontando para cima e assim que Jack olhou para luzes suspirou, aparentemente chateado.
“É o chamado dos guardiões.” Ele disse, fazendo o sorriso que começava a crescer no meu rosto, se apagar. “Norte está nos convocando de volta para a fábrica. Já é a hora de vocês partirem.”
Olhei para o cenário ao meu redor, contemplando aquele lugar magnífico por uma última vez. Jack se levantou junto comigo e tirou um globo de neve, quebrando-o no chão.
O portal se abriu para a Sala do Globo, onde Norte nos aguardava ao lado de Merida e Soluço, que estavam de mãos dadas e tinham semblantes tristes. Os cajados deles haviam assumido a forma de bracelete, assim como o meu e o de Jack.
“E ai, galera...” Jack os saudou e eles acenaram em resposta.
Norte olhou para nós quatro com uma tristeza em seu olhar. Ele não queria fazer isso, mas era necessário. Apesar de sermos guardiões, tínhamos uma vida no passado. Merida e Soluço tinham que voltar para seus pais e eu tinha que conhecer os meus.
“Vamos lá pessoal.” Norte disse apontando para o elevador e tentando soar otimista.
Fomos nos arrastando para elevador, pois apesar de tudo ninguém queria partir. Assim que entramos Norte apertou o botão para a garagem, que ficava no último andar. Segurei a mão de Jack e a apertei com força.
O nosso adeus seria em breve.

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