32. O Poder do The Big Four
POV Soluço
O ar assobiava em meus ouvidos a medida em que íamos cada vez mais alto. A noite havia se tornado um borrão ao redor de mim, e eu tinha a estranha sensação de estar sozinho.
“Mas você não está.” A voz de Merida ricocheteou pela minha mente.
Girei a cabeça para o lado e sorri para ela, que retribuiu meu sorriso imediatamente.
“Cuidado!” Jack gritou em nossas mentes, e eu só tive tempo de erguer meu cajado e fazer um escudo de luz azul.
Uma forte onda de areia negra se chocou contra o escudo e me empurrou para baixo. Precisei de toda minha força para me manter no ar e liberar uma rajada de luz que dissipou a areia.
“Isso não foi o Breu.” Afirmei, incerto, e uma grande fênix de areia negra surgiu por entre as nuvens, assumindo a autoria do ataque.
“Outra galinha.” Merida brincou, e a fênix cuspiu um jato de areia negra na direção dela.
Rapunzel agiu rapidamente, fazendo um escudo de luz amarela à frente de Merida. O escudo bloqueou o ataque da fênix e avançou sobre a criatura, que se desfez no ar antes que ele a tocasse. Senti uma leve brisa balançar meus cabelos e olhei para trás, dando de cara com a galinha negra.
“Opa.” Disse, atônito, e a fênix grasnou, avançando com seu bico afiado na minha direção.
Uma rajada de luz azul cortou o ar e acertou o flanco da criatura, reduzindo-a á pó.
“Obrigado.” Disse ao Jack, que assentiu e fitou uma nuvem negra.
“Breu, seu covarde! Apareça e lute como homem!” Ele gritou o mais alto que pôde, e um trovão ecoou em resposta.
“Pare com esse ato teatral! Isso está ridículo!” Merida gritou, entrando na onda de Jack.
Um relâmpago iluminou os céus, e eu senti um calafrio subir pela minha espinha. As vozes dos pesadelos ecoaram em minha mente, igual como houve no lago, e eu olhei para os demais, constatando que era o único que podia ouvir aquilo.
“O caosss essstá por toda parte.” Disse uma voz fria e sssibilante. “Nada que o The Big Four fizer irá ajudar aos mortaiss...”
“Sssão todosss unss fracosss, afinal...” Sibilou outra voz. “Ainda não compreendem oss poderess que posssuem...”
“Soluço!” Merida gritou, e eu senti um jato de areia negra se chocar em minhas costas.
Girei no ar e empalideci ao olhar nos olhos de quem estava atrás de mim. Era ele. O rei de todos os pesadelos e temores noturnos. Aquele que me assombrou durante toda minha infância. O ser que eu temi mais do que os dragões e que agora controlava o mundo: Breu.
“Olá, rapaz.” Ele me cumprimentou, com sua voz fria e com um sorriso sádico no rosto, enquanto seus olhos me mostravam uma visão torturante de Berk sendo engolida por uma poderosa onda de areia negra.
Congelei onde estava. A visão era tão clara e vívida, que parecia que eu estava parado lá, assistindo àquela terrível e trágica cena. Meus músculos amoleceram, meus olhos lacrimejaram e minha mente sucumbiu à visão de Breu, acreditando que aquilo era real. Senti a chama da fé se apagar em dentro mim e o poder vindo da lua morrer em meu interior. Meu pai se fora. Minha vila e minha casa, agora não passavam de um lugar esquecido e engolido pelas trevas. Ver aquilo era um destino pior do que a própria morte.
Gemi alto, enquanto meu coração se afogava em agonia e meu mundo desmoronava. Fechei os olhos entregando-me ao vazio e senti a força que me sustentava nos céus me tragar violentamente para baixo. Bem de longe, vozes alarmadas gritavam meu nome. Vozes estas que eu mal podia ouvir e discernir a quem pertenciam. Minhas pálpebras se entreabriram e eu senti a escuridão me engolir à medida que minha mente viajava para o desconhecido. Mas antes que eu pudesse atravessar o véu que separa o mundo dos vivos e dos mortos, uma mão gelada segurou meu braço esquerdo com força e eu ouvi uma serena voz masculina dizer em minha mente:
“Volte meu filho, pois ainda não chegou tua hora. Teu caminho ainda é longo e tu pássaras por muitas mais privações, antes de te entregares a morte. Porém não se preocupe, eu estarei contigo e lhe acompanhei por onde for.”
“Soluço!” Ouvi uma voz juvenil me chamar num tom preocupado. “Cara, fica comigo; não vai agora, velho.”
Bem devagar, abri os olhos e olhei para cima, percebendo que era Jack que me segurava.
“Pelos céus, você está vivo!” Ele exclamou contente, e em seguida gritou mentalmente, sorrindo feito louco: “Ele está vivo! Merida, ele está vivo!”
“Eu disse que ele não havia morrido!” Merida bradou, e eu senti que ela teve dificuldade para formular a frase, o que significava que minha ruiva estava lutando.
“A loirinha está com ela.” Jack disse num tom sério, confirmando meus pensamentos. “Cara... não faça mais isso. Quase nos matou de susto.”
Suspirei e me restabeleci no ar, não precisando mais do apoio de Jack.
“Desculpa. Mas é que foi tão real... Parecia que eu estava lá vendo tudo aquilo.” Falei e Jack assentiu preocupado.
“Breu está usando o poder de Lilith, que a cada minuto cresce e fica mais forte. As trevas já tomaram conta do globo e se não a combatemos logo, será tarde demais para fazer alguma coisa.”
“Já é tarde demais para fazer alguma coisa.” Breu disse, aparecendo ao nosso lado. “Vocês não...”
Dois cordões dourados envolveram a cintura de Breu e o puxaram para trás, interrompendo o rei pesadelo no meio da frase e fazendo-o atravessar uma grossa nuvem negra, tirando-o de nossas vistas.
“Bom, como eu dizia...” Jack falou, voltando a olhar para mim. “Nós temos que ir.”
Assenti e voei na direção que Breu desaparecera, atravessando-a e dando de cara com uma cena de tirar o fôlego. Rapunzel e Merida tinham seus cajados em frente aos seus corpos e liberavam um enorme jato de luz amarela na direção de Breu, que se defendia com uma enorme parede de areia negra.
“Vamos nos juntar à farra.” Jack disse, e desapareceu em meio as nuvens, reaparecendo segundos depois atrás de Breu.
O cara cinza se virou e tentou atacá-lo, mas o guardião foi mais rápido e lançou um jato de luz azul na direção dele. Uma série de ataques foi disparada por nós, acertando Breu de todos os lados.
Merida atacava primeiro, e quando Breu tentava se recuperar, eu o atacava pela esquerda, seguido por Jack e Rapunzel. O rodízio de ataques estava dando certo, até que o Rei Pesadelo ficou furioso e se encolheu, antes de abrir os braços e deixar o seu corpo liberar uma ofuscante luz cinza. Fui lançado para trás e atravessei algumas nuvens, antes de conseguir recuperar o equilíbrio.
“Merida, você está bem?” Perguntei, preocupado.
“Sim, estou.” Ela respondeu meio cansada.
“Eu também estou bem, Solucinho. Obrigado por perguntar.” Jack disse sarcasticamente, e eu revirei os olhos.
“Loira?”
“Eu estou bem, Soluço.” A voz de Rapunzel soou calma e segura.
“Ótimo, qual de vocês vai querer morrer primeiro?” Breu perguntou, entrando em nossas mentes; e Merida rosnou, se lançando na direção dele, com seu cajado dourado emanando faíscas vermelhas. “Mas, é claro... A ruiva valente.”
Merida grunhiu, liberando uma explosão de faíscas vermelhas, que dispersaram as nuvens negras que nos separavam de Breu. Jack atacou pelo sul, acertando o flanco direito do cara cinza, que lançou uma onda de areia negra na direção do garoto, arremessando-o longe, enquanto se defendia dos ataques de Merida com um escudo de luz cinza escura. Ataquei Breu pelas costas, mas antes que meu jato de luz o atingisse, um escudo de luz cinza foi criado atrás dele, bloqueando meu ataque. Rapunzel lançou uma onda de areia dourada na direção de Breu e nossa luta continuou assim: Nós atacávamos, e Breu se defendia sem fazer esforço.
“Isso está se tornando entediante.” Breu comentou, desanimado. “Hora de colocar uma pitada de medo nisso aqui.”
Uma luz cinza emanou do cara de mesma cor, dissipando nossos ataques no meio do caminho, e nossas posições se inverteram. Breu atacava sem parar, enquanto nós tentávamos nos defender. Estávamos aplicando muito esforço em nossos escudos, que sempre se partiam até no mínimo ataque.
“É impressão minha... Ou estamos levando uma surra?”
“Não. Isso é só impressão sua mesmo.” Jack me respondeu enquanto lutava. Sua voz não tinha indícios de sarcasmo.
Breu continuou não nos dando uma surra, até ficar impaciente e gritar, criando uma explosão de luz negra que nos lançou para longe, fazendo-me atravessar um punhado de nuvens escuras. Fiquei tonto e atordoado. O mundo girou em torno de mim e eu tentei inutilmente recuperar meu equilíbrio. Estávamos lutando com todas as nossas forças e mesmo assim não vencíamos.
O que será que havíamos feito de errado?
No mesmo instante, recordei-me das palavras que Merida resgatou recentemente de minha memória:
“Juntos vocês formam o The Big Four.” A Fada havia dito.
“... juntos, somos mais fortes.” Rapunzel havia afirmado.
“... juntos, eles criam uma força como nenhuma outra.” A Fada havia explicado, em uma memória do Jack.
“... juntos, superamos qualquer coisa.” Jack havia dito.
Finalmente entendi o que a Fada do Dente queria dizer. Quando nós quatro estávamos juntos, criávamos uma força inigualável. Mas esse “juntos” não significava reunidos, mas sim juntos mesmo, lutando e atacando ao mesmo momento
Estabilizei-me no ar e compartilhei minha descoberta com os outros.
“Jack, ruiva, loira!” Chamei e senti a presença deles em meus pensamentos. “Temos que nós reagrupar! Só poderemos derrotar Breu, se atacarmos juntos e ao mesmo tempo.”
“Como eu e o Jack fizemos com Mor’du!” Merida exclamou, compreendendo o que tínhamos que fazer.
Trovões e relâmpagos cortaram o céu e Breu saiu teatralmente de uma nuvem. Ele tinha um tapete de areia negra fluindo sob seus pés, e uma poderosa escuridão havia tomado seus olhos dourados, tornando-os escuros.
“A escuridão reina sobre a terra.” Breu disse, com sua voz fria. “Nem mesmo os poderes primordiais, poderão me impedir agora. Eu sou Breu Black, o Rei dos Pesadelos e agora do mundo.”
Jack, Merida e Rapunzel apareceram atrás de mim, formando uma linha defensiva ao meu lado. Os trovões e relâmpagos aumentaram, e uma forte ventania tomou conta do ambiente. Olhei para Merida que estava ao meu lado direito, e Rapunzel e Jack que estavam ao meu lado esquerdo. Eles assentiram determinados e nós quatro fitamos Breu, que pôde ver a ousadia, coragem e bravura em nosso olhar.
“Vocês não me ouviram?!” Breu gritou, cego pelo poder. “Não podem me derrotar! Eu sou o rei do mundo!”
“Dias de Lutas. Dias de Glórias.” Sussurrei para mim mesmo, mas todos ouviram e compreenderam minhas palavras. Breu me lançou um olhar mortal, que eu sustentei até senti que estava pronto.
“Agora!” Gritei o mais alto que pude, e Rapunzel, Merida e Jack lançaram suas luzes no mesmo momento que eu.
As luzes douradas e azuladas viajaram pelo ar, se unindo e assumindo um tom branco ao acertar Breu. O Rei Pesadelo protegeu o rosto com as mãos, enquanto a luz acertava seu coração, espalhando-se por todo seu corpo. Minhas mãos começaram a formigar e eu consegui sentir um grande poder antigo preencher todo o meu ser, transformando e mudando cada pedaço de mim. Breu rugiu e foi tomado pela luz, que o envolveu por completo. Nós quatro abaixamos nossos cajados e a luz que envolvia Breu explodiu, se tornando verde e nos lançando em direção ao chão.
“Meus parabéns, filho.” Ouvi a voz serena dizer, antes da luz verde tomar conta de tudo e eu cair no chão, batendo minha cabeça com força e perdendo, assim, a consciência.
***
Acordei e sentei rapidamente no chão, fazendo minha cabeça doer e girar por causa do brusco movimento. Minha visão estava embaçada, mas eu pude perceber que estava de volta ao lago congelado, e que Jack, Rapunzel e Merida estavam sentados próximos a mim.
“Vocês estão bem?” Perguntei mentalmente, pois minha voz parecia ter sumido.
“Nossas cabeças estão estourando, mas sim, estamos bem.” Merida respondeu em nome de todos.
“Galera... O que é que foi aquilo?!” Jack perguntou, parecendo ter curtido a luz verde.
“Eu não sei direito, mas pelo menos acabou com o Breu.” Rapunzel afirmou confiante.
“Então... Nós vencemos?” Perguntei, incerto, e minha visão voltou ao normal, permitindo-me ver claramente o mundo ao meu redor.
Bem acima das árvores, havia uma coisa que deixava o ambiente totalmente diferente. Era a luz! O céu estava alaranjado, e o sol começava a aparecer no horizonte, despejando seus maravilhosos raios dourados sobre a terra. Não era apenas mais um nascer do sol. Era o início de um novo tempo, um novo dia; uma nova era.
“Eu creio que vencemos.” Rapunzel disse, olhando para os céus e sorrindo abertamente.
“É vocês venceram.” Lilith disse em nossas mentes. “Só que eu esperava mais... Não achei que Breu fosse ser derrotado por uma luzinha de nada.”
“Oh, me desculpe senhorita, se nossa ‘luzinha’ não lhe agradou.” Jack se desculpou, sarcasticamente. “Vamos fazer melhor da próxima vez.”
“Próxima vez?” Merida perguntou, engasgada, na mesma hora em que Jamie e os amigos deles saíam da floresta gritando nossos nomes.
“Jack! Merida! Soluço! Rapunzel!” Jamie gritou, explodindo de felicidade. “Nós vencemos! E vocês ainda estão vivos.”
“É, isso também é uma surpresa para nós.” Rapunzel comentou, com a voz rouca.
Levantei-me e caminhei até Merida, estendendo a mão para ajudá-la a levantar. A ruiva sorriu e aceitou a ajuda, me abraçando ao ficar em pé.
“E quem diria que o inútil iria ter a ideia mais genial do dia.” Ela sussurrou no meu ouvido, e seu hálito quente causou arrepios em meu corpo.
“Acho que foi um golpe de sorte.” Falei, dando de ombros, e Merida se afastou um pouco para olhar meu rosto.
“Eu sei que você não acredita nisso.” Ela afirmou, decidida, e aproximou seus lábios dos meus. Porém, parou e olhou envergonhada para Jamie, que parecia estar decidindo se ficaria ou não com nojo da cena. “Desculpa.”
Jack gargalhou alto, e Rapunzel deu um soco no ombro do namorado, fazendo-o parar de rir.
“Obrigado, loira.” Agradeci, e senti o elo mental que ligava a mente de nós quatro se desfazer.
Olhei para a borda do lago, onde Lilith nos observava à distância, sorrindo amigavelmente. Ela ergueu a mão direita, dando um aceno leve e então desapareceu em areia negra.
“Adeus, minha amiga.” Rapunzel sussurrou triste, já sentindo falta da maluquinha de que todos nós gostávamos.
Um portal mágico se abriu próximo a nós e dois yetis saíram de dentro, carregando uma sacola vermelha.
“ygjjuidvajvgbnvjjkgivolt.” O yeti marrom grunhiu, mas o que meu cérebro processou foi: “Norte mandou buscar vocês.”
“Quem gentileza da parte dele.” Jack comentou, emburrado, nos deixando confusos com seu mau humor repentino.
“Vocês já vão tão cedo?” Sophie perguntou com sua voz infantil, fazendo-me notá-la em meio aos amigos de Jamie.
“Nós temos pessoas esperando por nós.” Merida falou, olhando a garotinha com ternura. “Mas não se preocupe. Ainda nos veremos algum dia.”
Sophie sorriu, assim como os demais. O yeti cinza abriu um portal e Merida passou, seguida por Rapunzel e os yetis cinza e marrom. Jack olhou para trás, dando um tchau para Jamie e passou. Eu também já estava passando quando uma coisa me deteve, fez-me olhar para as crianças e dizer:
“Lembrem-se sempre de que a hora mais escura da noite é aquela que vem antes do sol nascer.”
As crianças assentiram e eu atravessei o portal, deparando-me com uma cena que fez meu queixo cair em assombro.
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