31. A Chama se acende mais uma vez
POV Merida
Abri os olhos e a primeira coisa que vi foi um par de olhos verdes me fitando profundamente. Havia tristeza e um fio de esperança naquele olhar, que mudou para alegria assim percebeu que meus olhos estavam abertos.
“Eu estava morta. Esse primeiro beijo não valeu” Reclamei fazendo um biquinho e Soluço paralisou quando ouviu minha voz.
Revirei os olhos e puxei a gola da camisa do viking, trazendo-o para perto de mim. Abaixe minhas pálpebras e prendi a respiração, quando apertei meus lábios contra o dele. Senti uma coisa estranha tomar conta do meu corpo. Parecia... desespero? Sim, eu estava desesperada. Desesperada para que Soluço retribuísse o beijo com intensidade e me envolvesse em seus braços, colando seu corpo no meu. Eu estava gostando desse sentimento e apesar de ele ser estranho e novo para mim, eu queria aplacá-lo... imediatamente.
Demorou alguns segundos, mas Soluço fez exatamente o que eu queria como se estivesse lendo meus pensamentos. Os lábios macios dele começaram a se movimentar sob os meus, unindo-os em uma sincronia perfeita. Um de seus braços magros envolveu minha cintura, erguendo-me do chão e me puxando para perto do seu corpo, enquanto seu outro braço pousava-se em minha nuca, intensificando aquele momento. Meus dedos se enroscaram nos cabelos dele e tudo que eu queria naquele momento era que ficássemos assim para sempre, e de certa forma nós ficamos, pois os segundos se transformaram em minutos e para minha surpresa, não nos separamos um do outro.
Não precisávamos respirar, já que um estranho ar abastecia nossos pulmões. Nosso beijo continuava intenso e ardente, quando alguém pigarreou ao nosso lado. Eu o ignorei e continuei a beijar Soluço, mas então eu ouvi uma voizinha baixa em dentro da minha cabeça, que dizia que eu e o viking já havíamos ultrapassado os limites da decência. Separei meus lábios dos de Soluço e o rosto do garoto se fechou em uma careta. Ri baixinho e ao olhar na direção do pigarro, vi que seu dono era o pinguim.
“Bem vida de volta, Merida.” Ele me cumprimentou sorrindo.
“Você me chamou de Merida?” Perguntei incrédula.
O sorriso do rosto do iceberg desapareceu de imediato.
“È claro que não, lareira.” Ele afirmou e cruzando os braços perguntou num tom rabugento: “A gente vai lutar com os pesadelos ou vocês vão ficar ai se agarrando?”
“Pare de enchê-los, Frost.” Lilith bradou, com sua voz elevada ecoando pelas nossas mentes. “Deixa eles serem felizes!”
“Ah, então quando é eu e a Punzie você reclama... Mas quando é o Solucinho e a tochinha, você apoia?” Jack reclamou indignado. “Que injustiça é essa, Lilith?!”
“Não é injustiça... é só preferência. Eles dois formam um casal ardente. E eu gosto de casais ardentes.” Lilith se defendeu e eu senti que ela sorria.
“Era só o que faltava... Casal ardente...” Jack resmungou mentalmente, fazendo eu e Soluço rir. O picolé nos olhou emburrado e reclamou completamente exasperado: “Vocês vão ficar sentados ai ou vão me ajudar?!”.
“Frost!” Lilith esbravejou, fazendo eu e Soluço rir feitos loucos.
Jack rolou os olhos e usando um tom controlado pediu:
“Vocês podem, por favor, se levantar e vir me ajudar com os pesadelos? Por que eles parecem estar voltando.”
O guardião olhou para um determinado ponto da floresta, onde um pedaço de areia negra estava adquirindo uma forma. Soluço e eu paramos de rir e nos entreolhamos. O viking assentiu, ficando de pé e me ajudando a levantar.
Meu cajado apareceu, flutuando no ar e eu o agarrei.
“Okay, pinguim. O que devemos fazer?”
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A luta entre nós e os agentes de Breu estava equilibrada.
Banguela e Jamie estavam no centro da cidade. O dragão derrotava os pesadelos com seu fogo, enquanto o garoto fazia com que as crianças deixassem seu medo de lado e se unissem a eles para combater os pesadelos. Lilith estava perto do Covil do Breu e formava dupla com um lobo pesadelo, que estava do nosso lado. O nome dele era Apollyon e sempre que ele mordia um de seus “irmãos”, o pesadelo mordido tinha dois destinos: Ou morria ou se aliava a ele. A maioria estava morrendo, mas a minoria que estava ao nosso lado, já era o suficiente para nos proporcionar uma boa ajuda.
Enquanto as duplas protegiam o centro da cidade, Soluço, Jack e eu, estávamos no lago congelado atacando as criaturas sem parar. O meu fogo e as luzes azuis de Jack e Soluço, estavam fazendo com elas sumissem no primeiro ataque, o que era ótimo para nós, já que tínhamos um exercito para enfrentar.
“A sua direita, pinguim!” Gritei para Jack, que estava concentrado nos pesadelos a sua frente.
“Eu não sou cego, lareira!” Jack rebateu gritando de volta e lançando um raio de luz azul nos pesadelos carequinhas.
Rolei os olhos e paralisei ao ver uma horda de pesadelos carecas se aproximando. Eles agora carregavam lanças e estavam montados em cavalos, o que os deixavam com uma aparência um tanto perturbadora.
Apertei meus dedos em torno do cajado e fuzilei os pesadelos com meu olhar mortal. Sem nenhum sinal, eles pararam no meio da floresta e o que parecia ser o líder deles sorriu, seus olhos brancos estavam carregados de maldade.
“Taq!” Ele gritou e sua voz parecida com a de uma cobra fez a horda avançar na nossa direção.
“Reagrupar!” Soluço ordenou gritando. “Formar uma linha defensiva.”
Imediatamente Jack e eu o ladeamos. Três fumaças negras apareceram ao meu lado e tomou a forma humana, revelando uma garota magricela, um guri loiro de óculos vermelhos e uma guriazinha de cabelos loiros, que eu reconheci como sendo a irmã do Jamie. Eu os fitei por um momento, antes de me virar e me concentrar nos pesadelos.
As palmas das três crianças estavam erguidas na frente dos seus corpos, enquanto o meu cajado, o de Soluço e o de Jack estavam apontados na direção da horda. Todos nós estávamos prontos, mas precisamos do sinal do viking. Os pesadelos se aproximavam cada vez de nós. Um estranho pânico tomou conta de mim. Balancei a cabeça e respirei pesadamente. Eu precisava ter esperança e fé, não podia deixar sob-hipótese alguma, o medo me dominar. A horda avançava cada vez mais, no momento em eles iriam tocar a borda da clareira, Soluço gritou em plenos pulmões:
“Agora!”
Uma enorme onda de luz avançou na direção dos pesadelos. Era uma mistura de luzes azuis, areia dourada e luz amarela. Espera, luz amarela?
Olhei para meu cajado e meu queixo caiu. Eu estava fazendo luz amarela; Eu estava fazendo luz amarela!
Um sentimento estranho tomou conta de mim, ele era um misto de alegria, emoção e euforia. De certa forma aquilo era ótimo, pois esses sentimentos faziam minha luz amarela crescer cada vez mais, o que deixava a cena á minha frente era esplendorosa. Todo pesadelo que se aproximava da nossa luz, era desintegrado imediatamente. Levou alguns segundos para a horda inteira se eliminada. As crianças abaixaram suas mãos e o resto de nós abaixou seus cajados.
“Você fez aquilo?!” Jack perguntou abismado e boquiaberto.
“Sim! Eu fiz aquilo! Dá para acreditar?” Respondi sentindo uma vontade enorme de gritar.
Jack negou com a cabeça e Soluço andou até mim e me puxou para um abraço.
“Meus parabéns, minha ruivinha!” Ele desejou e eu não contive um sorriso.
“Sua ruivinha?” Perguntei me afastando dele, que tinha um enorme sorriso no rosto.
“Sou meio possessivo.” Ele admitiu acariciando minha face e colocando um braço em torno de minha cintura de modo possessivo.
“Ownt.” Ouvi uma voz feminina dizer e me virei da direção da voz.
Era a garota magrela, que possuía cabelos curtos e castanhos, olhos castanhos escuros e aparentava ter uns doze anos. Imediatamente eu a reconheci. Era a tal de Pippa, que Jamie havia se despedido ao sair da estranha carruagem amarela.
“Oi.” Pippa me cumprimentou com um sorriso discreto. “Eu sou Pippa, você deve ser a Merida. Jamie me falou muito bem sobre você.”
Sorri meio encabulada e o garoto de óculos se apresentou:
“Eu sou Monty.”
Acenei para ele e a irmã do Jamie começou a pular e balançar os braços como se estivesse chamando minha atenção. Eu ri baixinho e olhei para ela, que mostrou seu sorriso banguela.
“Sou Sophie, irmã do Jamie.” Ela disse com sua voz doce e infantil.
“Oi.” Sussurrei e o chão começou a tremer.
Olhei para Soluço, que olhou para Jack, que fitou o céu apreensivo. Uma luz amarela brilhava em meu ao firmamento negro, indicando que Rapunzel ainda estava de pé, dando o seu máximo para acabar com o Breu.
“Infelizmente, isso não é o suficiente, Merida.” Ela confessou em um tom de voz baixo.
“Como assim não é o suficiente?” Jack questionou parecendo confuso.
Rapunzel não respondeu a pergunta e o silêncio reinou sob o ambiente, porém não na minha mente. Várias lembranças do nosso quarteto faiscaram em meus pensamentos, deixando diferentes vozes vagar em minha consciência.
“A escuridão está retornando.” A voz astuta de Breu ecoou pela lembranças de Jack.
“Nós somos... os guardiões da lenda?” Ouvi a lembrança da voz de Rapunzel perguntar.
“Dizem que quando juntos, eles criam uma força como nenhuma outra. E é com este poder que podemos derrotar Breu.” A Fada comentou.
“É perigoso demais.” Eu me ouvi dizer.
“Há um motivo para o Homem da Lua nos reunir é por que juntos somos mais fortes.”Rapunzel afirmou.
“E juntos superamos qualquer coisa.” Jack disse com convicção.
“Não! Não leve isso!” Gothel urrou em meus pensamentos.
Talvez a loucura seja sua saída. Minha consciência disse para mim.
“Nós só conseguimos matar Mor’du por que o acertamos com nossos cajados.” Jack disse pensativo.
“Algumas pessoas não choram porque são fracas. E sim porque foram fortes por muito tempo.” Soluço me tranquilizou.
“Eu acredito que iremos vencer.” Me ouvi afirmar.
“Extermine o Filho da Lua!” Ouvi uma voz estranha gritar nas lembranças de Soluço.
“Eu te liberto do controle das trevas.” Rapunzel disse com uma voz firme.
“Juntos vocês formam o The Big Four.” A voz da Fada ecoou pela minha mente, fazendo um eco na palavra Four. Eu sabia que aquilo significava alguma coisa, só não sabia o quê.
Todos olharam para mim e senti que estava prestes a descobrir. As vozes ecoaram novamente em meus pensamentos, dessa vez todas juntas em um uníssono. Fechei os olhos e toquei minha têmpora direta com as pontas de meus dedos frios. Faltava algo, mas eu não sabia o que era. As lembranças se entrelaçam e as frases se misturaram. Diante de toda a confusão em minha mente eu consegui encontrar a frase que fazia todo sentido para nossa situação. Abri os olhos surpresa e fitei os demais, que estavam tão abismados quanto eu.
“Dizem que quando juntos, eles criam uma força como nenhuma outra.” Falei repetindo as palavras da Fada. “E é com este poder que podemos derrotar Breu.”
No mesmo momento o corpo de Rapunzel se chocou violentamente no lago, como se tivesse sido empurrado para baixo. A terra tremeu levemente e o cajado que estava na mão direita da garota começou a tremular e desaparecer.
“Rapunzel!” Eu e Jack gritamos juntos e nos agachamos ao lado dela.
A garota parecia estar distante, seus olhos verdes estavam fixados no vazio do céu escuro e a respiração dela era superficial. Olhei aflita para minha amiga e percebi que estava escorrendo um liquido amarelo da parte de trás de sua cabeça. Não; ela não podia estar morrendo.
“Ei, Rapunzel, olhe para mim.” Pedi apoiando a cabeça dela no meu colo.
Bem lentamente ela me fitou com seus olhos vazios, fazendo meus olhos se encherem de lágrimas. Mas que droga de mundo era esse? Será que todo mundo tinha de morrer? Cadê a merda da justiça, afinal?
“Sol...” Rapunzel murmurou e a pele dela começou a emitir uma luz amarela. “Clarion...”
Franzi a testa confusa com as suas palavras e então notei que a luz não minha dela, vinda de mim. Olhei para Jack que fitava sua palma direita de onde emanava uma luz azul.
“...uma força como nenhuma outra...” Sussurrei e olhei para Rapunzel que sorria fraco. Ela estendeu as palmas de suas mãos, que estavam emanando a mesma luz amarela que a minha.
“Sol e Lua. Trevas e Luz.” Rapunzel disse pousando uma de suas palmas sob a minha e outra sob a de Jack.
Houve um forte clarão, que cegou todos os presentes. A forte luz reinou por alguns segundos, antes de se extinguir por completo. Fitei Rapunzel, que se apoiou no chão usando seu cotovelo e olhou para mim, o brilho de alegria voltando ao seu olhar.
“Ah, loira!” Exclamei e abracei Rapunzel com toda minha força. Espera. Eu disse loira?
Afastei-me bruscamente da garota e meu queixo caiu. O cabelo dela estava loiro e comprido novamente! Não comprido do tipo de 20 metros, mas comprido do tipo de chegar um pouco abaixo da cintura da loira.
“Como isso é possível?” Perguntei e Rapunzel só fez sorrir.
“Eu que pergunto. Como isso é possível?” Soluço falou atraindo a atenção de todos nós.
O viking fitava incrédulo seu cajado, que tinha ido de verde musgo para cor prata, sendo que a joia da ponta, agora era azul.
“Merida, o seu cajado!” Jack exclamou e eu arfei ao ver que meu cajado estava dourado e sua pedra havia se tornado vermelha.
“Mas, o que está acontecendo?” Perguntei confusa.
“O poder dos quatro grandes está se solidificando.” Lilith respondeu aparecendo ao lado de Soluço. “A transformação dos seus cajados é a prova disso.”
“Você disse que eu era a única que podia acabar com o Breu.” Rapunzel lembrou, se levantando e fitando Lilith intensamente. “Quando na verdade, apenas os quatros poderiam derrotá-lo.”
“Eu estava enganada.” Lilith disse balançando a cabeça negativamente. “Interpretei errado o conceito de esperança.”
“Bom, isso não importa mais.” Falei me levantando e estendendo a mão para Jack também se levantar. “Agora, temos que ir e acabar com o cara de camisola.”
“Finalmente disse algo útil, lareira.” O picolé murmurou e eu revirei os olhos.
“Certo. Então vamos lá.” Soluço disse tentando parecer animado.
Rapunzel pegou seu cajado e no mesmo instante a minha pele e a dela começaram a emitir um brilho dourado. Olhei para Soluço e Jack e vi que as peles de ambos começavam a emitir um brilho azul. Nos entreolhamos e o pinguim sorriu de modo travesso, antes de dizer:
“Vamos lá.”
Num forte impulso, nós quatro voamos para cima, na direção do nosso inimigo
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