26. Fim?


POV Jack
Uma sensação estranha tomava conta do meu corpo.
O meu estomago estava embrulhado e eu já não sentia mais meus dedos do pé. Estava com dificuldade de respirar pelo nariz e toda vez que eu respirava pela boca, minha garganta doía. Não tinha a mínima ideia de que a adaga era feita, mas tinha certeza que ela trazia uma morte lenta e dolorosa.
Apesar de tudo, minha única vontade era de ressuscitar Gothel, só para ter o prazer de mata-la usando minhas próprias mãos. Geralmente não gosto de usar violência, mas para a bruxa eu abriria uma exceção gratificante.
Já que além de me apunhalar ela também tinha criado a tal de ligação com o cabelo de Rapunzel. Quando cortei o cabelo da loira, eu tinha consciência da ligação, mas pensei que fosse só com o cabelo e não com a vida da minha garota.
“Finalmente, depois de séculos. as trevas dominam novamente.” Breu disse e a forma de uma criança feita de areia negra surgiu na sua palma “Todo vestígio de esperança... Se acabou.”
Ele fechou a mão e a areia se desfez imediatamente. Com um sorriso alegre ele circulou o globo, que não tinha nenhuma luz acessa.
“O que você tem a dizer sobre isso Frost?” Breu perguntou erguendo uma sobrancelha.
“Vá para o inferno!” Bradei com a voz seca e Breu riu alto.
“Já estamos nele.” Ele retrucou com sorriso que me fez querer vomitar. “Agora onde está o Homem da Lua? Onde estão seus queridos guardiões, Jack?”
“Os guardiões!” Exclamei me lembrando deles. “O que você...”
Rapunzel gemeu alto e voltei imediatamente minha atenção a ela. A loira... quero dizer, a morena estava extremamente pálida. Suas mechas castanhas começavam a assumir um tom grisalho enquanto o verde dos seus olhos se tornava cinzentos. Ela lutava para manter os olhos abertos; Lágrimas silenciosas rolavam pela sua face.
“Raio de sol...” Murmurei puxando-a para meu colo.
Ela apoiou a cabeça no meu ombro e passou os braços em volta do meu pescoço. Sua respiração superficial bateu no meu pescoço e eu senti uma dor aguda no lugar onde a adaga entrou.
“Ganhei um apelido novo?” Rapunzel perguntou com uma voz rouca.
“Você não é mais loira.” Respondi fechando os olhos.
O silêncio se instalou no ambiente. Num ato inesperado Rapunzel beijou meu pescoço e em seguida comentou:
“Muito criativo.”
Abri os olhos e me deparei com um par de olhos cinza me fitando profundamente. Havia um sorriso nos lábios da minha nova morena, que mesmo sendo fraco me animava de um jeito especial.
Ergui minha mão e toquei aquele rostinho de porcelana; ela estava na beira da morte e ainda continuava linda. Só podia ser meu raio de sol.
“Por mim já chega.” Breu disse enquanto descia os degraus da escadaria do globo. “Essa cena romântica cheia de melodrama já está me dando enjoo.”
Rapunzel e eu o fitamos seriamente; Uma foice de areia negra surgiu nas mãos cinzentas de Breu, que sorria diabolicamente.
“Para que prolongar o inevitável, não é mesmo?” Ele perguntou avançando na nossa direção.
“Pela primeira vez na vida, concordo com você.” Lilith murmurou se materializando ao nosso lado.
Minha filha traidora.” Breu rosnou, parando de andar imediatamente.
“Meu paizinho adorável.” Lilith o saudou sorrindo de modo sarcástico.
“Você some por séculos e resolve aparecer justo agora?” Breu reclamou indignado.
“Antes tarde do que nunca. Não é mesmo papai?” Lilith rebateu sorrindo de forma bizarra.
“Ora sua peste maldita!” Breu bradou furioso. “Saia daqui e me deixe em paz!”
“Eu até poderia fazer isso, se você não fosse matar o Jack e a Rapunzel.” Lilith respondeu com um semblante mórbido.
Breu analisou sua filha de cima a baixo; Seus olhos dourados se estreitaram.
“Se retire daqui de uma maneira pacifica ou eu...”
“Ou você o que?” Lilith perguntou franzindo a testa. “Vai me matar como fez com ela?”
A expressão de raiva de Breu vacilou, a dor preencheu seu rosto e eu entendi de imediato. “Ela” era a mãe de Lilith.
“Não ouse falar de Seraphina!” Breu gritou furioso, lançando a foice na direção de Lilith.
“Você a matou!” Lilith rebateu gritando, enquanto a foice se desfazia no ar antes de se aproximar do seu alvo. “Você não tem o direito de me impedir de falar sobre ela! Graças a você, minha mãe morreu e a culpa é toda sua!”
Uma onda de luz negra avançou para cima de Breu. Que beleza! Eu aqui quase morrendo e tendo de presenciar uma briga de família!
Por favor, meu Homem da Lua. Se algum dia eu tiver filhos e se conseguir ter algum, faça com que nossa relação seja diferente. E se tivermos alguma desavença, não deixe que a gente tente se matar, ok? Muito obrigado.
Breu ergueu uma parede de areia que bloqueou o ataque de sua filha. Lilith estreitou os olhos e correu na direção do pai, criando um caminho de luz negra atrás de si. Ela parou no meio do caminho, girou para o lado direito e depois jogou os braços para frente do seu corpo, liberado uma forte rajada de luz negra.
Mas seu pai parecia conhecê-la muito bem, por isso a confrontou com uma rajada de areia negra. As duas forças se chocaram na metade do caminho entre os adversários; Breu estava relaxado como se aquilo fosse um passatempo entediante, enquanto Lilith fuzilava concentrada a areia negra.
A areia negra começou a avançar para cima da luz e ganhar uma enorme vantagem na disputa. Lilith fechou os olhos.
Achei que ela iria fazer uma careta, mas ela me surpreendeu ao abrir os olhos e sorrir. Não um sorri do tipo “Muahahah, eu vou te matar”, mas um sorriso do tipo “Acordei alegre” ou “Amei essa surpresa.”
Pânico tomou conta dos olhos de Breu. Eu já tinha visto assim, porém dessa vez era diferente, não era só pânico que havia no seu olhar, havia também o medo.
A luz negra explodiu, tomando conta da sala e jogando Breu para longe. Lilith olhou fixamente para seu pai e uma nevoa cinza o envolveu. O sorriso dela se desfez quando ela se virou para nós. Sem dizer nada ela se agachou ao nosso lado e acariciou os cabelos de Rapunzel.
“Desculpe-me Punzie, eu não sabia...” Ela disse com a voz chorosa e os olhos cheios de lágrimas. “Se eu ao menos suspeitasse, não...”
“Chii...” Rapunzel pediu tocando levemente o rosto de Lilith, ela estava rouca. “Não foi sua culpa. Você não tinha nem como suspeitar de uma coisa dessas.”
Lilith franziu os lábios e controlou as lágrimas que queria cair.
“Apesar de te conhecer a pouco tempo, já a considero como uma irmã para mim.” Ela murmurou com um sorriso fraco. “Você vai ser sempre a irmã caçula que eu nunca tive. Bom eu tenho uma irmã caçula, mas ela não é uma irmã muito irmã, sacou?”
“Saquei.” Rapunzel respondeu sorrindo.
“Sua imperti...” Breu começou a gritar, mas uma onda de fumaça o envolveu prendendo-o novamente no chão.
“Me deixe dizer até logo para ela, idiota!” Lilith reclamou e eu não pude deixar de sorrir. Rapunzel e eu morrendo, o mundo em caos e ela agindo como se tivéssemos todo o tempo do mundo.
“Até logo?” Rapunzel perguntou a meia voz.
“Não vou conseguir sobreviver a minha luta com ele e se conseguir estarei fraca demais.” Lilith respondeu. “Portanto, até logo.”
“Até logo, irritante. Foi um prazer te conhecer.” Murmurei sentindo uma dor dilacerante na garganta, a cada palavra que eu pronunciava.
“Até logo, imbecil. Não vou esquecer-me da sua impaciência.” Lilith se despediu se levantando. “E Rapunzel...” Ela se virou em nossa direção sorrindo. “Obrigada, sua luz me fez lembrar de quem eu sou realmente.”
Rapunzel apenas assentiu, provavelmente sua voz já tinha sido tragada pela dor mortal.
Lilith assentiu de volta e se desfez em fumaça, assim como seu pai. Incrível como a filha do nosso inimigo, se tornou nossa maior aliada e nos protegeu em momentos difíceis. Teríamos uma divida eterna com ela, uma divida que só em outra vida poderíamos pagar.
Cansei de tentar segurar minha dor, Suspirei derrotado libertando-a e deixando correr soltar pelos meus nervos e músculos. Minha visão começou a ficar turva, meus ouvidos tiniram, enquanto meu coração começava a reduziu suas passadas.
Rapunzel sufocou um gemido e cravou as unhas no meu pescoço. Olhei para ela e minha visão escureceu momentaneamente.
“Desculpe.” Pedi sussurrando e sentindo algo molhar meu pescoço, antes da escuridão me engolir.

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