25. Moribundos


POV Rapunzel
Eu não sabia como Gothel poderia estar viva.
A ponta da minha lança e a flecha de Merida tinha perfurado o coração da bruxa; Mas por algum motivo o golpe não foi fatal.
Depois do meu ataque sem sucesso, Gothel lançou uma fumaça negra na minha direção que me deixou desacordada. E logo quando eu consegui despertar, uma coisa branca impediu minha visão.
“Consegue ficar de pé?” Ouvi Jack perguntar ao meu lado.
“Sim.” Respondi tentando encontra-lo em meio à imensidão branca.
Mãos frias encontraram as minhas e me ajudaram a levantar. Jack pôs o braço em torno de mim e começou a me conduzir para algum lugar. Andamos por alguns segundos e o branco que cobria meus olhos foi substituído pela escuridão: Estávamos em um dos corredores do covil.
“Luz, por favor.” Jack pediu colocando algo em minha mão direita.
Assim que meus dedos tocaram aquele objeto eu o reconheci. Era a minha lança; Ela emitiu uma luz dourada e ficou novamente na forma de um cajado. O cristal da ponta assumiu um tom dourado, trazendo luz à escuridão.
Jack fitou o cajado e depois se virou para mim, me dando aquele sorriso torto que eu amava. Ele me estendeu sua mão pálida e fria e a peguei sem pensar duas vezes. De mãos dadas começamos a andar pelo corredor escuro.
“Onde está Merida?” Perguntei sussurrando.
“Foi ajudar o Soluço. Descobrimos que os aliados de Breu só podem ser mortos se forem atingidos por dois cajados.” Jack respondeu.
“É, mas o Soluço não tem um cajado.” Comentei confusa.
“Um pouco de fé, loira.” Jack falou sorrindo. “Solucinho vai achar o cajado dele.”
“Solucinho?” Perguntei estranhando o nome, mas rindo do qual engraçado era.
“É o apelido que resolvi dar para ele.” Jack respondeu e se virou para mim sorrindo. “Agora, na moral. Esse apelido não é a cara dele?” Concordei balançando minha cabeça enquanto nós dois riamos. Imaginar o rosto de Soluço ao ouvir seu novo apelido foi impagável.
Continuamos a andar pelos corredores, mas dessa vez em silêncio mortal, o que só fez minha vontade de soltar a mão de Jack entrar em extinção. Um vento frio se chocou contra nós no mesmo momento em que lobos uivaram ao longe e uma voz estranha e sibilante ecoou pelo corredor:
“Fugent ad spes.”
“Gothel.” Murmurei e fiz menção de correr em disparada. Mas Jack segurou meus ombros e me puxou para perto novamente.
“Não podemos correr disso.” Ele murmurou pensativo. “De qualquer jeito ele vai nos achar.”
“Então, o que faremos?” Perguntei fitando-o.
Não esperava, mas ele me empurrou para parede fazendo minhas costas bateram com força na pedra, logo ficou ao meu lado na mesma posição que eu estava. A respiração dele era acelerada e Jack parecia ter visto um fantasma de tão branco que conseguiu ficar.
“Desculpe por isso e pelo o que vou te pedir.” Jack falou angustiado.
O fitei confusa e curiosa. O que seria de tão ruim para deixa-lo naquele estado?
“Primeiro: Desligue a luz do seu cajado.” Ele me pediu se afastando um pouco de mim e com a voz tremula.
Ainda confusa eu fiz a luz do cajado se apagar, nos deixando no escuro. Os uivos dos lobos pareciam se aproximar enquanto meu cajado brilhava forte, do nada o soltei. Ele assumiu a forma de um bracelete dourado com uma pedra rosa e flutuou até o meu pulso, prendendo-se ali e finalmente luz cessou, fazendo a escuridão voltar.
“Agora... Eu quero que você pense no seu pior pesadelo.” Jack me pediu com a voz rouca. “Breu sabe que não temos medo, por isso soltou esses lobos.”
Na mesma hora entendi; aqueles lobos não farejam o medo e sim esperança. Suspirei, começando a pensar no meu maior pesadelo. Ele era simples: Perder o Jack.
Um estranho sentimento me envolveu e um bruxulear de imagens tomou conta de minha mente.
Jack e eu estávamos na beira de um penhasco, nos olhávamos sérios e em silêncio. A terra começou a tremer e uma fenda surgiu entre nós. O fitei em pânico, enquanto a terra começava a ceder atrás dele. Gritei e estendi meus braços em sua direção, mas Jack deu um sorriso fraco e desapareceu em meio a terra.
Me deixando sozinha. Me deixando vazia e com uma dor incrível no peito, como se meu coração estivesse parando.
A imagem era tão real que a senti como uma lembrança. Minha mente então me fez acreditar em algo inacreditável: Que meu Jack tinha morrido e eu não conseguiria vencer Breu sozinha.
Lágrimas brotaram nos meus olhos fechados e um aperto tomou conta do meu coração; Tinha perdido a pessoa mais importante da minha vida. Ele tinha ido embora e eu não pude dizer que o amava. Estava vazia, sem forças. Nada mais me importava agora.
O barulho de patas pesadas ecoaram pelo corredor. A criatura parecia ser rápida, pois em poucos minutos já estava próxima a mim. Ela parou e andou calmamente, parando na minha frente, com seu focinho molhado tocou minha testa e fungou.
Sinceramente eu não importava se ela iria me matar ou não. A única coisa com que me importava agora era com a dor que eu sentia; ela dilacerava minha alma de um jeito tão forte, que eu começava a me perguntar como ainda estava viva.
A criatura por algum motivo não me atacou. Apenas se afastou de mim, começou a farejar e seguiu em frente.
Lágrimas escaparam dos meus olhos. O Jack... O meu Jack não estava mais do meu lado. Me agachei apoiando minhas costas na paredes e me deixei chorar.
“Rapunzel?” Ouvi a voz Jack me chamar.
Eu o ignorei, ele estava morto. Aquilo só podia ser minha mente pregando peças sem graças em mim.
“Ei, loira. Você está me ouvindo?” Ele perguntou num tom preocupado.
Mais lágrimas rolaram pela minha face; Minha mente era tão cruel assim a ponto de torturar?
“Loira...” Frost me chamou sussurrando ao meu lado.
“Vai embora! Você não está mais aqui.” Pedi com voz chorosa. “Estou sozinha agora, não pude te segurar comigo.”
“Está enganada.” Jack disse convicto e pegou a minha mão. “Eu estou aqui e tenho como provar.”
O toque dele despertou uma estranha felicidade em dentro de mim. Mas isso era impossível, ele estava morto!Soltei a mão dele sem pensar duas vezes. Por que minha mente estava fazendo aquilo comigo? Que sentido tinha me fazer sofrer mais?
O hálito de Jack bateu contra minha bochecha e algo tocou os cabelos caídos em meus ombros. A presença de Jack me cercou, ficando em minha frente. Me senti presa entre a parede e o corpo de Jack, não poderia escapar da cilada que minha mente estava pregando em mim, era tarde de mais.
“O que sua mente está dizendo não é verdade Rapunzel. Eu estou aqui.” Jack murmurou com convicção em meu ouvido, me deixando arrepiada. “Se aquilo não foi o suficiente, acho que isto vai ser.” O toque frio de alguma coisa contra minha bochecha me fez abrir os olhos, surpresa.
Eu abri meus olhos, mas não pude vê-lo.
Lábios frios tocaram os meus e não se moveram dali, apenas sentia o toque. Não sei explicar o que senti; acho que foi a mistura de choque elétrico, com paz e alegria. Automaticamente meus dedos se trançaram em seu cabelo puxando-o para mim.
Ele estava lá! Jack estava comigo de novo!
As mãos de Jack envolveram minha cintura enquanto ele sorria sobre meus lábios. Nosso beijo foi delicado, suave e um tanto demorado. Nem um de nós dois tinha pressa. O mundo podia estar se acabando naquele momento, que não iríamos ligar.
Mas infelizmente precisávamos respirar; Jack segurou meu rosto entre as mãos e o empurrou delicadamente para trás. Nossos lábios se separaram e eu abri os olhos. Uma estranha luz amarela emanava da minha pele e iluminava um pouco o ambiente, então consegui ver um par de olhos azuis.
“Você não morreu...” Foi à única coisa que minha mente conseguiu pensar.
“Não. Aquilo foi a Lilith mexendo com sua mente.” Jack disse parecendo culpado. “Novamente me desculpe. Eu não queria que você sofresse assim.”
“Isso não importa, agora.” Disse sorrindo que nem boba. “Você está aqui.”
Jack sorriu. Ainda segurando meu rosto, deu um beijo demorado em minha testa, me fazendo fechar os olhos novamente. O toque frio de Jack contra minha pele era acolhedor, delicado e fazia uma onde de calma se espalhar pelo meu corpo.
Despertamos quando uivos ecoaram pelo corredor, nos trazendo de volta a realidade.
“Nós temos que ir, não é?” Perguntei suspirando.
“Infelizmente sim.” Jack respondeu acariciando meu rosto. “Mas não se preocupe ainda teremos um longo tempo para ficarmos juntos.”
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Andamos pelos corredores há mais de uma hora. Eu só não tinha ficar entediada por que Jack estava ao meu lado. Por três vezes seguidas os lobos de Breu se esbarraram conosco. Eles tinham o tamanho de um cavalo e eram feitos de areia negra, seus olhos amarelos pareciam mais intimidadores do que o de uma cobra venenosa.
Quando eles passaram por nós, a lembrança que Lilith voltava para minha mente. Toda vez aquela dor dilacerante me preenchia e eu só voltava a normal se Jack me tocasse.
“Acho que ouvi alguma coisa.” Jack murmurou, soltando minha mão e andando mais rápido. Deixei que ele avançasse sozinho.
Um uivo percorreu o corredor em que estávamos. Assustada, olhei rapidamente para trás e apertei o passo para acompanhar Jack. Eu não ousei falar nada, pois o rosto dele emitia um alerta piscante de perigo.
Havia uma abertura logo à frente. Pelo cheiro do ambiente, eu sabia que dava para a sala do globo. Jack olhou para mim e segurou meus ombros quando percebeu que tremia, assustada.
“Vai ficar tudo bem, loira.” Ele disse num tom de voz quase inaudível.
Mais um uivo percorreu o corredor. Jack e eu olhamos para o caminho atrás de nós. Ele me soltou e espiou pelo canto da abertura. Juntei-me a ele extremamente amedrontada.
Apenas Gothel estava na sala, sentada na escada de costas para nós. O capuz de sua capa estava levantado e ela tinha uma mão pousada no seu coração. Uma luz amarela brilhava na frente dela.
Jack olhou para mim e tentei reunir o pouco de coragem que me havia restado; precisávamos atacar enquanto ela estivesse fraca.
Começamos a andar pela sala sem fazer nenhum barulho, enquanto Gothel continuava parada. Meu cajado assumiu a forma de uma lança e o de Jack também. Se não estivéssemos num momento tenso eu pararia para admirar longamente a lança, que tinha o cabo de madeira e a ponta feita de um cristal azulado.
Nós dois prendemos nossas respirações e paramos bem atrás de Gothel. Erguemos nossas lanças e quando perfuramos a bruxa ela se desfez em fumaça. Nos entreolhamos assustados, uma areia negra atingiu nossas costas, nos jogando do outro lado da sala.
Cai sobre meu braço e por pouco não o torci. Ergui a cabeça e me deparei com Gothel parada entre Jack e eu.
“Você só continua viva por que...” Gothel não terminou a ameaça, mas não precisava. Sabia o motivo exato. Era por causa do meu cabelo.
“Se você é tão poderosa por que não achou outra fonte de juventude?” Jack perguntou se levantando.
“Você acha que juventude é fácil de conseguir?” Gothel retrucou se voltando a Jack. Aproveitei o momento distração dela e me levantei, pegando meu cajado.
“Sei lá. Eu não entendo essas paradas de magia.” Jack respondeu com um sorriso de deboche no rosto.
“Eu sou imortal, mas continuo a envelhecer.” Gothel explicou. “E é por isso que eu preciso da sua loirinha.”
“Puxa que história trágica.” Jack comentou franzindo a testa. Ele ergueu a mão na minha direção: “Loira, por favor...”
No momento que Gothel se virou uma forte luz emanou do cristal do meu cajado. Ela deu um grito e estalou os dedos. Um pano branco envolveu meu nariz e minha boca, senti um cheiro estranho e cai de joelhos no chão.
A luz se apagou e Gothel sorriu. Jack correu até mim e se agachou ao meu lado.
“Rapunzel!” Ele disse e eu senti minha visão ficar turva. “O que você fez com ela sua bruxa maldita?”
“Como disse, eu preciso da sua loirinha.” Gothel murmurou alegre. “O pano foi mergulhado em uma flor chamada Saora e advinha o que ela faz?”
Jack não respondeu, ele estava tentando tirar o pano. Gothel riu e Jack tirou suas mãos do pano. Eu olhei para ele desesperada, o tal cheiro estava tirando o meu ar.
“Não conseguiu adivinhar, então eu lhe conto. A Saora é o oposto da Flor Solar.” Assim que Gothel disse uma dor atingiu meu peito.
A flor dourada curava e a Saora feria, até mesmo matava. Por que o mundo tinha que ter opostos?
Minha dor se intensificou e um gemido escapou dos meus lábios. Jack estava paralisado, seus olhos estavam fora de foco, como se ele estivesse em outro mundo.
Gothel se agachou ao lado dele e desembainhou uma adaga, erguendo-a sob seu coração, prestes a perfurar as costas de Jack. Segurei seu pulso com força e, para minha surpresa, Jack não se moveu nenhum centímetro.
“Chrysaora!” Gothel disse usando um tom sombrio.
Um dor rasgou minha alma, me fazendo recuar para trás. Gemi alto e Gothel meu deu um sorriso cruel quando soltei seu pulso; Jack voltou à realidade apenas na hora em que a lâmina entrou nas suas costas.
Gritei mas minha voz não saiu, me deixando sufocada. Gothel tirou a adaga de dentro dele e limpou o sangue na sua capa.
Ele continuou parado ao meu lado, se apoiando sobre as duas mãos para não cair contra o chão. Sangue começava a manchar seu moletom azul e Jack me fitou com os olhos cheios de lágrimas, a expressão de dor e cansaço em seu rosto.
O cajado dele se tornou uma adaga e ele me deu um sorriso torto.
“Loira...” Ele sussurrou se inclinado na minha direção. “ Me desculpe.”
Jack agarrou meus cabelos na altura da nuca e num movimento rápido, a adaga que estava na sua mão direita cortou os fios loiros.
“Não!” Gothel gritou.
O cabelo que estava espalhado ao meu redor, se tornou castanho. Gothel urrou e puxou seu capuz, para tentar esconder o seu rosto, enquanto recuava para trás; Ela estava envelhecendo.
A bruxa girou, ficando de costas para mim, caiu de joelhos e deu um ultimo grito antes de desaparecer, deixando para trás apenas sua capa. A dor em dentro de mim cessou.
“Loiri...” Jack começou a sussurrar, mas sua voz falhou.
O fitei confusa. Os guardiões não eram imortais?
“Jack você está...?” Perguntei sem coragem de terminar a frase.
Para meu desespero ele assentiu, com os olhos agoniados.
“Como...”
“ ...isso é possível?” Breu terminou a frase me interrompendo. “Simples. Aquela adaga não era comum, ela era especial. O Homem da Lua não te falou sobre ela, não foi Jack?”
Eu gemi baixinho. Jack largou a adaga e tirou sem nenhuma dificuldade o pano de minha boca.
Ele segurou meu rosto entre as mãos e encostou sua testa na minha, fazendo com que nós dois olhássemos no olho um do outro. A essa altura meus olhos já estavam transbordando lágrimas, minha visão embaçada pelo choro apenas conseguia olhar para o rosto branco de Jack.
“Mas que coisa linda... O casal moribundo trocando seus últimos carinhos. Ah, que coisa romântica” Breu murmurou se sentando nos degraus da escadaria do globo.
“Moribundo?” Perguntei confusa, me afastando de Jack.
“O seu ouro se apagou, minha flor.” Breu respondeu sorrindo. “E foi seu namorado que escreveu sua sentença de morte.”
“O que?” Perguntei e então uma dor atingiu meu peito.
Jack segurou meus ombros enquanto todo meu interior queimava. Gothel havia morrido quando ele cortou meu cabelo. E tudo indicava que eu também. Não tinha nada lindo nisso, pois toda beleza tinha sido tomado por duas coisas horríveis:
A dor e o vazio.

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