07. Visitando uma velha amiga.


LILITH
Particularmente, tenho que admitir que amo a Escócia. É tudo tão mágico e fantástico que parece que você respira a magia. E, é exatamente por isso, que eu tinha 1.000% de certeza de que minha velha amiga, Jadis, havia se instalado por lá. Para ser mais exata, nos arredores da Callanish Stones ou como eu gosto de chamar: Pedras Super Poderosas.
“Iu-hu. Tem alguém em casa?”, falei ao entrar na cabana, que a velha Jadis intitulara de Artes & Manhas.
O corvo da bruxa, Corvinus, voou e posou no meu ombro. Ele olhou para minhas roupas — uma saia vermelha rodada, um espartilho bege, blusa de manga comprida preta com meias e sapatilhas da mesma cor — e fez uma careta.
“Você já se vestiu melhor”, ele comentou e eu lhe dei um peteleco, que o fez voar longe.
“Bruxa! Você está aí?”
“Não me chame de bruxa! Eu sou uma carpinteira!”. Uma voz vinda do além gritou e uma vassoura encantada bateu em minha cabeça.
Lancei um olhar feio para a vassoura, que voou para o canto da caverna onde Corvinus estava acuado.
“Okay, Jadis. Posso ter uma palavrinha contigo?”, perguntei e a bruxa apareceu ao meu lado como se estivesse o tempo todo ali.
Jadis estava imutável. Ela estava com o mesmo cabelo, curto e branco, os mesmo olhos dourados, a mesma cara enrugada, as mesmas bochechas caídas, os mesmo lábios finos e as mesmas orelhas, tão grandes quanto seu nariz grande curvo. As únicas coisas diferentes eram os pelos brancos que haviam crescido em seu queixo, o brinco de cristaizinhos que agora fazia par com o outro brinco enorme de madeira, e é claro, seu velho vestido verde que estava completamente manchado. Fora isso, ela estava igual da última vez que eu a vi, que foi há uns... hã... quinhentos anos atrás.
“Eu sei por que está aqui. É seu destino me procurar”, ela falou, me fazendo revirar os olhos.
“Se você sabe, então por que ainda estamos em sua loja?”, indaguei irritada e Jadis ergueu um dedo na minha direção.
“Controle-se ou eu não te ajudo”, ela me ameaçou e em seguida, se dirigiu para a porta e começou a resmungar: “Jovens... Imortais ou não, são todos impacientes e petulantes.”
Revirei os olhos e sorri, enquanto a seguia. Saímos da cabana e Jadis fechou a porta, estralou os dedos e quando entremos novamente estávamos em sua sala de poções. A bruxa foi para uma estante e começou a remexer nas jarras dela. Vi um colar lindo, em uma banqueta, mas assim que eu o toquei, Jadis disse:
“Nem pense em roubá-lo.”
Fiz uma careta. Maldita sejam as bruxas e seus olhos atrás da cabeça.
“O mapa da Chave do Sol. Só existem dois deles em todo o mundo”, Jadis disse estendendo um pergaminho dourado para mim.
Sorri e estava quase pegando-o, quando Jadis o afastou, obrigando-me a fazer uma careta.
“Antes de pegá-lo, você precisa ouvir a profecia e saber das consequências”, ela falou, afastando-se e indo até seu caldeirão. Suspirei e fui atrás dela.
Jadis jogou um pó verde na água borbulhante do caldeirão. Uma fumaça verde subiu e entrou pela boca de Jadis, fazendo ela se conectar com o lado espiritual. Quando ela abriu os olhos, suas íris estavam num tom brilhante de verde.
“Eu quero ouvir a profecia em que eu estou envolvida”, pedi num tom respeitoso. Quando Jadis estava no modo espiritual, o ambiente ao seu redor ficava sensível.
Jadis inspirou e proferiu as palavras num tom sombrio:
“Seis lutarão,
E a vitória conquistarão,
A princesa morrerá,
Para as trevas libertar.”
Ergui uma sobrancelha e levantei a mão.
“Perguntinha: essa tal princesa sou eu?”
Jadis me olhou. Seus olhos pareciam ser capazes de ver minha alma.
“Eu vejo morte em seu futuro”, ela respondeu e eu fiz uma careta.
“Isso é um sim?”, perguntei irritada.
Jadis fechou os olhos e abriu a boca liberando a fumaça verde, que voltou para o caldeirão e começou a sumir no fundo dele. A bruxa congelou e caiu dura para trás. Olhei para ela e virei minha atenção para o caldeirão.
“Você não respondeu minha pergunta!”, reclamei, agarrando a panela que esquentou sob minha mão, me fazendo soltá-la. Como eu disse, sensível.
Jadis gemeu e me virei na mesma hora em que ela se sentava. Uma de suas mãos estava em sua cabeça e a outra em sua coluna.
“Você me deixou cair!”, ela bradou indignada.
“Olha, se quer fazer reclamação, entra na fila'', retruquei e Jadis ficou de pé, fazendo seus ossos estalarem. A bruxa era tão ruim, que nem seus ossos quebravam. “Então, o que você quis dizer com morte em meu futuro? Eu vou morrer, por acaso? Por que ninguém me disse que eu iria morrer, fazendo essa merda.”
“Morte no futuro tem muitos sentidos. Pode ser que você morra, ou outra pessoa morra em seu lugar”, Jadis explicou e eu estralei os dedos, sorrindo.
“Gostei da parte de outra pessoa morrer em meu lugar. Eu apoio essa ideia” Afirmei e Jadis revirou os olhos.
“Você sabe que é uma missão de risco. Todos vão tentar te matar.”
“É isso aí. Sou um alvo ambulante agora”, falei ironicamente.
Jadis me lançou um olhar de repreensão.
“Pare de levar tudo na brincadeira...”
“Okay. Você quer que eu chore e comece a gritar desesperada? Por que meu sonho é dar uma de louca.”
“Lilith!”
“Okay, okay, já parei”, disse com uma cara de tédio.
Jadis suspirou e balançou a cabeça.
“Você é incorrigível.”
“Acho isso ótimo. Por que se eu não fosse assim, levaria toda essa situação a sério e já teria morrido com medo de morrer”, retruquei, num tom sério.
Jadis me olhou seriamente me fazendo ficar séria de verdade.
“O mapa te levará a chave. Clarion e o Czar irão fazer de tudo para te impedir, por isso você deverá formar algumas alianças se quiser atingir seu objetivo.”
“Okay, já tenho alguns em mente.”
Jadis assentiu e pegou minha mão. Quando falou novamente sua voz estava embargada:
'' É provável que você enfrente as tropas da lua e do sol. Eles são muito poderosos, por estarem do lado da luz... ”
“Mas as trevas são mais poderosas”, afirmei, interrompendo-a. “Elas existem desde o principio e vai continuar a existir até o fim do mundo.”
A velha bruxa franziu os lábios e olhou para baixo com os olhos marejados.
“É tão frustrante só poder observar...”, Jadis sussurrou com a voz chorosa.
Não pude me conter e me agachei abraçando a velha de quem eu tanto gostava. Que me ajudou, escondendo-me do meu pai e me enviando para Burgess quando o The Big Four mais precisava.
“Na hora certa você irá agir, Jadis. E eu tenho pena daqueles que sentiram seu poder”, confortei-a e me afastei dela, deixando-a beijar minha testa.
“Tome cuidado, pequena”, ela sussurrou e eu sorri para ela.
Levantei-me e deixei a cabana, guardando o mapa no bolso da minha saia, enquanto as sombras me envolviam. A morte poderia estar no meu destino, mas ela iria valer mais que toda minha vida.

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