10. Acredite


TOOTHIANA
Embora Nyx fosse um problema, no momento havia outro: Rapunzel.
A loira estava pálida e sem vida, como o sol ofuscado por nuvens tempestuosas. Clarion se recusou a falar de algo, antes que pudéssemos ajudar a guardiã, então a levamos para o alojamento do The Big Four, vulgo biblioteca.
Ignorando as quatro camas dispostas ali, Jack a colocou no divã, abaixo do vitral, que abriu para que sua loira pudesse ser banhada pelo sol. Clarion se sentou na beira do divã e examinou Rapunzel, tocando seus pulsos, sua testa e sua garganta, enquanto o resto de nós se limitava ficar afastados, apenas observando.
“Ela vai ficar bem?” A voz de Jack saiu estrangulada.
Os pesadelos drenaram quase todo seu poder do sol, disse o Homem da Lua, em nossas mentes. Mas acredito que ela vai se recuperar.
“Eu também acredito.” Afirmei, colocando minha mão direita no ombro de Jack. “Sua loira vai ficar boa, Jack.”
O Guardião assentiu e voltou seu olhar preocupado para a amada. Subitamente, os raios de sol recém-chegados no cômodo, se transformaram num punhado de fadinhas douradas do tamanho de uma palma humana. Elas voaram ao redor de Clarion, emitindo uma série de barulhos de sinos e tilindos, que julguei serem suas vozes.
“Não.” Clarion respondeu, docemente. “Chamem Apolo.”
“Estou aqui, majestade.” Um jovem guerreiro respondeu, materializando-se esticado no ar, a poucos metros da janela.
O jovem guerreiro vestia armadura grega, dourada e completa, com peitoral, elmo, espada e tudo. Era bem jovem, de altura modesta, musculoso, solar. Loiro, bronzeado e bonito. Aparentava ter uns 20 e poucos anos. Era Apolo, o Primeiro Guardião do Sol.
“Para quê essas caras, parceiros?” Ele riu. “Não é como se tivessem num funeral.”
“Apolo,” disse Clarion, lançando-lhe um olhar que não pude ver. “sua irmã precisa de sua ajuda.
Apolo ergueu uma sobrancelha e deu uma pirueta no ar, aterrissando de cócoras no parapeito da janela. Inclinando-se na direção de Rapunzel, afagou seu rosto num gesto cálido, e ainda sorrindo marotamente, entoou rapidamente a seguinte canção:
Brilha linda flor
Teu poder venceu
Traz de volta já
O que uma vez foi meu
Cura o que se feriu
Salva o que se perdeu
Traz de volta já
O que uma vez foi meu
“Apolo!” Clarion ralhou, dando-lhe um cascudo no alto da cabeça.
O jovem guerreiro se encolheu e riu.
“Relaxe, parceira. Vê só, deu certo.”
Ele tinha razão. A cor havia voltado às bochechas de Rapunzel. Seus longos cabelos loiros brilhavam dourados, assim como o lindo cajado dourado de pedra lilás, que surgira em sua mão direita. Todos nós prendemos o fôlego, esperando o que vinha a seguir.
Dolorosos segundos se passaram, até que enfim as pálpebras de Rapunzel estremeceram, e ela abriu os olhos, que por um momento eram amarelos como o sol, mas logo retornaram ao familiar verde-esmeralda.
“Jack...” Ela sussurrou, olhando ao redor, preocupada.
Um borrão azul passou por mim. Pisquei e vi um Jack de joelhos, rindo, enquanto abraçava uma Rapunzel confusa e atordoada. Norte e Coelhão respiraram aliviados, o Homem da Lua e Clarion sorriram. Voei até Apolo, abraçando-o e lhe dando um beijo na testa.
“Obrigado, faíscas.” Disse, fazendo-o rir.
“Disponha, sempre, papagaio.” Apolo retrucou, bagunçando as penas de minha cabeça.
“Vocês se conhecem?” Jack perguntou, agora tão confuso quanto sua loira.
Todos os olhar foram disparados para Clarion e o Homem da Lua. E então nosso velho amigo disse:
“Temos muito que conversar.”
...
De volta a Sala do Globo, Clarion e o Homem da Lua explicaram sobre os Guardiões Primordiais, a queda do Mundo Negro e o sacrifício de Breu, tal como a promessa que Lilith fizera a sua patrona Nyx.
Após todas as revelações, o silêncio tomou conta do ambiente. Havia surpresa, choque e até certa irritação nos rostos dos Guardiões. Eram esperados protestos e reclamações, por causa de tantas omissões, mas, surpreendente, a primeira coisa dita foi:
“Sempre te imaginei mais alto.” Aquilo viera de Jack, é claro.
O Homem da Lua riu.
“E com um cajado maneiro e uma armadura bacana, não é? Não, Jack, este seria Nightlight, meu fiel amigo e protetor. Eu sou assim, redondo e antigo, como a lua.”
No canto do quarto, Nightliht sorriu, mexendo os dedos e dando a um feixe de luz branca, a forma de um lutadorzinho de sumô com as feições do Homem da Lua. Ri baixinho, sendo acompanhada por Merida, Soluço e Apolo, que também notaram a silenciosa cena.
Jack apontou para Nightligth, que desfez sua animação de luz, antes que alguém pudesse reconhecer o que era.
“Então você é o Guardião da Luz, mas ele que é o verdadeiro Guardião da Lua.”
“Sim.”
“E o cara dourado deve ser o Guardião do Sol.”
Apolo estalou a língua e fez uma cara indignada.
“Guardião do Sol? Eu sou é o Guardião da Cura, parceiro!”
“Claro que é. E essas fadinhas brilhantes seriam suas ajudantes?”
Clarion assentiu.
“Da mesma forma que os yetis são para o Norte, e as fadas das estações são para vocês.”
“Hum, claro. Peraí! Fadas das estações?!”
Apolo riu.
“Achava que antes de vocês as estações chegavam como? Por meio de mágica?” Desdenhou, agitando os braços e expelindo um punhado de areia dourada.
“As fadas são servas da Ordem, Natureza e Magia. Foram postas sob o meu comando para a permanência do equilibrio.” Clarion explicou, indicando o grupo de fadas que agora estava mais diversificado e colorido. “Cada uma nasce com tipo de dom, que em conjunto com os das outras, realiza a mudança de estações ao redor do mundo.”
“Por que não nos revelam essas coisas antes?” Coelhão perguntou, fazendo uma das perguntas que já deviam ter sido feitas.
Norte e Sandman o apoiaram, com um grunhido e um grande sinal de interrogação.
“Por que se tivessem conhecimento disso, iriam ficar curiosos, e partiriam atrás dos Filhos do Sol, provocando o desequilíbrio novamente.”
“Mas por que The Big Four existe, e o equilibrio não foi alterado?” Norte indagou, erguendo uma sobrancelha.
“Por que eles são as duas coisas ao mesmo tempo.” O Homem da Lua sorriu animado. “São Filhos do Sol por serem Guardiões das Estações, mas também são Filhos da Lua, ao serem protetores da Coragem, da Criatividade, da Amizade e da Diversão.”
“Hum, tipo... agentes duplos?” Jack perguntou, tentando entender. “Ou passivos... ou em cima do murro. Ou híbridos... ou...”
“Acho que agentes duplos resolve a situação.” Apolo disse, cortando a onda do outro rapaz. “Fica até meio misterioso...”
“Mas isso não faz o menor sentido.” Soluço comentou.
“Eu sei. Acho que mestiços ficaria melhor.” Jack admitiu, pensativo.
“Só se vocês fossem cavalos.” Apolo retrucou e inclinou na direção de Jack. “Você é um cavalo, parceiro?”
“Por que, você é?”
“Dá para os dois retardados calarem a boca? Soluço está querendo dizer algo importante!” Merida reclamou, lançando seu olhar selvagem para os dois rapazes.
Nigthligth cutucou seu mestre e fez um leãozinho de luz branca, que rugia e tinha a cara de Merida. O Homem da lua deu uma risadinha. O som lembrava sinos de vento.
“Como estava dizendo... não faz sentido. Como Lilith libertaria Nyx, se nem ao menos sabe onde ela está?” Soluço expôs, lançando um olhar interrogativo para os Guardiões Primordiais.
O Homem da Lua e seu protetor se entreolharam. Apolo flutuou para o lado de Clarion e cochichou algo no seu ouvido. A mulher assentiu.
“Iridessa!” Clarion chamou, convocando uma das fadas douradas para sua presença.
A fadinha rodopiou ao redor de si mesma, antes de voar por trás de Clarion, passando por suas asas de areia dourada e reaparecendo numa forma mais humana.
Ela agora tinha a pele morena, olhos amendoados e cabelos negros presos num grande coque. Suas asas finas e transparentes, como as de uma libélula, soltavam um pozinho dourado quando batiam. Seu vestido curto e sem mangas, parecia ser feito a partir de um girassol, e o broche em seu peito era uma grande semente dessa flor.
“Está é Iridessa, uma Fada da Luz.” Iridessa nos cumprimentou com um aceno de cabeça. “Ela irá revelar a última parte que falta dessa história. Com muita calma.”
Iridessa, que havia arregalado os olhos, os fechou, respirando fundo e contando até dez, a procura de calma.
“Tudo bem, garota. Não precisa ter medo. As palavras não vão te morder.” Jack brincou, colocando a mão no ombro da fada, de forma reconfortante. Suas palavras tinham soado tão calmas e verdadeiras, que nem pareciam ter partido dele.
Iridessa deu um sorriso mínimo para Jack, e com sua voz calorosa, sussurrou:
“Assim é a prisão de Nyx e seus pesadelos: Uma ilha perdida no espaço-tempo, que abriga um pavilhão no seu centro. Nele há um alçapão, que fora preparado especialmente para Lady das Trevas.
Sua grade é de ferro estelar, mantida pelo encantamento dos dois pilares que a ladeiam, um com o poder do Sol, outro com o da Lua. A única forma de desativá-los, é com as chaves, que foram quebradas e espalhas pelo tempo para que ninguém pudesse encontrá-las.”
“Me deixa adivinhar...” Norte murmurou, carrancudo. “Lilith deu um jeito de juntar essas partes.”
Nigthligth ficou triste e cabisbaixo, o leãozinho-Merida que saltava ao seu redor, se apagou.
“Apenas as da Chave da Lua.” O Homem da Lua admitiu, desanimado. “As coisas são mais difíceis para a Chave do Sol. Elas não foram apenas escondidas.”
“Foram encantadas e protegidas por forças mui perigosas.” Iridessa completou, ainda sussurrando, como se nos contássemos um segredo. “Poucos são os que sabem de sua existência. E o único jeito conhecido de encontrá-las, é por meio de magia.”
“The Big Four são os únicos capazes de acabar com esta ameaça. Portanto, sua missão deve ser encontrar as partes da Chave do Sol, antes de Lilith, para que assim possamos escondê-las num lugar mais seguro.” Clarion anunciou, encarando seus escolhidos.
“Minha fadinha...” O Homem da Lua, chamou-me com sua voz pacifica. “Você já viu o poder desse mal antigo de perto, e sabe de coisas que seus irmãos desconhecem. Seria de grande ajuda nessa missão.”
“Darei o meu melhor, Homem da Lua.” Assegurei, colocando um breve sorriso no rosto preocupado dele.
Mas logo sorriso desapareceu, e ele se virou para os demais, dizendo:
“Norte, Coelhão, Sandman e o resto dos Guardiões cuidarão dos generais pesadelos, que virão para enfraquecer e destruir nossos poderes. Apolo, Nightlight e as Fadas da Luz tentarão parar, ou se não for possível, pelo menos atrasar Lilith e seus possíveis aliados.”
“Bem, eu conheço uma bruxa. Ela não é muito boa... atrapalha mais que ajuda. Mas pode nos dar o que queremos, pelo preço certo, é claro.” Merida comentou, com olhar distante e feições endurecidas.
“Não é aquela que transformou sua mãe em urso, é?” Soluço perguntou receoso e Merida assentiu, para sua agonia. “Pelas tranças de Frija! Aquela velha não é perigosa?”
“Sim, mas pode ser de grande ajuda. Se há um lugar onde vocês podem encontrar algo sobre as Chaves é no Artes&Manhas.” O Homem da Lua cravou seus olhos azuis em Rapunzel. “Está muito quieta, florzinha dourada.”
Era verdade. Desde que acordara e ouvira a explicação dos Guardiões Primordiais, a loira mal falara duas palavras. Seus lindos olhos verdes permaneceram sempre fixos ao chão e o rosto de pêssego estava sem expressão. Mas, agora que ela fitava o Homem da Lua, seus olhos tinham uma pontada de tristeza e uma leve amargura tomava conta de suas feições.
“Ela me fez prometer...” Sussurrou, desanimada.
“Sim.” O Homem da Lua disse, aproximando-se da garota. “E você sabe que a promessa de um Guardião é como se fosse a vida dele, não é?”
“Do que estão falando?” Jack perguntou, olhando para nós, em buscas de respostas. Mas sabíamos tanto quanto ele.
“Não é nada.” Rapunzel afirmou, com a voz alegre, e um sorriso que chegava aos seus olhos. “O importante agora é ir atrás da bruxa de Merida e salvar o mundo, certo?”
“È. Nada de novo, como sempre.” Jack ironizou casualmente, mas seu olhar para Rapunzel dizia tudo. Ele não iria esquecer o assunto tão fácil. Ainda saberia qual era essa promessa de que falaram.
“E quanto nossas obrigações de Guardiões?” Soluço indagou, preocupado, como o bom garoto que era.
Nigthligth sorriu. Fadinhas de luz branca voaram ao nosso redor.
“O Garoto da Luz, tem razão. As fadas sempre cuidaram das estações, vão continuar fazendo o mesmo agora.” Apolo disse, movendo uma onda de poeira dourada para as fadinhas de Nightlight e colocando armadura nelas. “Porém, ainda há um assunto a se discutido.”
“Que seria...?” Indaguei, curiosa, ganhando um sorriso travesso do Filho do Sol.
“Ora essa, é bem óbvio. Quando nós do Time do Sol, vamos conhecer os Caras da Lua? Que por sinal, mal se conhecem.” Ele respondeu, semeando um cadinho de dúvidas.
Sandman foi o primeiro a entender. Logo um bebê de poeira dourada, flutuava entre nós, com uma lua no peito e uma interrogação em sua cabeça.
“Sim, existem outros. Ombric, o Guardião da Magia; e Katherine, a Guardiã das Histórias, também são Filhos da Lua.” O Homem da Lua respondeu.
Nigthligth o ajudou fazendo as formas dos Guardiões. Katherine, pequenina, de cabelos cacheados e lindo sorriso, e Ombric, velho, ossudo, de barbas e vestes compridas e turbante de pena alta, como o dos Sultões da Arábia.
“Conheço eles.” Norte afirmou, sorrindo. “Vivem em Santoff Claussen com um punhado de crianças órfãs, vitimas dos pesadelos. Qualquer um que vai para lá, para de envelhecer. È um ótimo lugar para se sentir jovem outra vez.”
“E nunca falaram deles por que... ?” Jack inquiriu, nos encarando.
Norte respondeu com um dar de ombros. Sandman assoviou despreocupado. Não consegui pensar em nenhuma desculpa, mas felizmente Coelhão nos salvou.
“Bem, eles não são de lutar. Então não se envolvem em nossas crises, nem pode nos ajudar. Fora que não devem gostar muito de visitas, já que a segurança deles é monstruosa.”
“Nem me lembre disso.” Resmunguei, recordando-me da minha recentíssima visita a vila.
Jack estreitou os olhos.
“Alguém mais que eu deva saber?”
Todos nós fitamos o Homem da Lua, que negou com a cabeça. Iridessa soltou um gritinho assustado, cobrindo a boca, quando nos viramos para olhá-la. Ela começou a falar alguma coisa, mas não deu para entender nada, por causa de sua fala apressada. Uma mordaça de areia dourada, então a silenciou, deixando-a de olhos arregalados.
“Respire... e fale.” Clarion pediu, antes de estralar os dedos e retirar a mordaça.
Iridessa respirou fundo algumas vezes, e mais calma, nos contou:
“Lilith acaba de se reunir com a Legião das Sombras. Atualmente, eles possuem apenas seis integrantes, mas estão dispostos a ajudar Lilith com o problema de Nyx.”
“Então não há mais tempo a perder.” Clarion disse, resoluta. Ela se virou para as fadas e ordenou: “Periwinkle para Corona. Rosetta para Burgess. Iridessa e Apolo para Berk, vejam se conseguem pegar o rastro deles. O resto retornem ao Refúgio das Fadas, revelem a verdade e preparem-se para o pior. Sigam a luz!” Clarion olhou para mim e The Big Four. “O mesmo é válido para vocês.”
As asas de Clarion a envolveram, emitindo uma forte luz dourada, que quase nos cegou. Cobri meus olhos e quando voltei a ver, nem ela, nem nenhum Filho do Sol estavam presentes.
“Tomem cuidado. Os perigos são inúmeros e virão de lugares inimagináveis, assim como as benções e ajudas. Lembre-se que há tanto a Lua, quanto o Sol em dentro de vocês. Isso pode ser algo bom, mas algo também ruim. Afinal, nada nesse mundo tem apenas um lado.” O Homem da Lua sorriu. “É chega a hora de vocês partirem. Procurem da bruxa, antes que o sol nasça por completo e que a lua suma do céu. A noite é sua inimiga, por isso tente não agir durante sua passagem.”
Nightlight girou seu cajado no ar, criando um redemoinho de luz branca, similar ao que ele, Jack e Rapunzel haviam chegado.
“E eu aqui achando, que teria uma folga dos meus irmãos...” Merida suspirou. “Até mais, galera. Vejo vocês do outro lado.”
Merida passou pelo portal — que o resto de nós encarava com receio — sorrindo como se fosse dar uma volta no parque, e não mergulhar em mais uma missão para salvar o mundo. De certa forma, sua atitude despreocupada nos ajudou a relaxar. E assim, sorrindo como um idiota, Jack se virou para os três Guardiões, que iriam ficar, dizendo:
“Alegria, caras! Vocês ficaram com a parte divertida!” E assim foi, puxando uma Rapunzel, que acenou para nós, entrando na onda dos amigos.
Apesar de tudo, Soluço hesitou, tenso e rígido. Ele lançou um olhar diferente para o Homem da Lua e algo se passou entre eles. Só quando o Guardião Primordial sorriu, assentindo, que o viking relaxou.
“Se precisarem de ajuda, clamem pelo vento...” Soluço sorriu. “Vocês sabem o nome dele.”
E então ele também se foi, deixando-me sozinha com os dois forasteiros, e meus velhos amigos. Meu coração se apertou, encolhendo-se até o tamanho de uma azeitona. Em sua última missão para deter as trevas, todos do The Big Four haviam morrido. O que fazia daquela, provavelmente, a última vez que estava com meus velhos parceiros. Com os olhos cheios de lágrimas, voei para cima deles, tomando Norte e Coelhão num abraço.
“Não se preocupe, Fada. Tudo vai dar certo. Eu acredito nisso.” Norte assegurou-me, fazendo eu me perder em seu abraço.
Afastei-me dele, recebendo um sorriso forçado e um tapinha nas costas. Coelhão me olhou com seriedade, os olhos repletos de preocupação.
“Não se esqueça...” Começou a dizer, carrancudo, antes de me dar um enorme sorriso, erguer um ovo rosa e dizer animado: “A páscoa é melhor que o natal.”
O sorriso de Norte morreu. Ele lançou um olhar gélido para o Coelhão e então riu ruidosamente.
“Acho que tanta informação confundiu seu cérebro, amigo.” Norte debochou, sorrindo maldosamente. “Natal é, foi, e sempre será melhor que a páscoa.”
“Claro... assim como o Breu sempre foi bonzinho. O sol é um disco no céu e a lua o “satélite” da terra.” Coelhão revirou os olhos. “Sinceramente, Norte, quem é a criança? Você ou seus amiguinhos que te escrevem?”
“Os dois, sem briga. Páscoa e natal são tão importantes quanto os dentes, os sonhos e a diversão, ok?” Suspirei e abracei Sand, que levitara para ficar de minha altura. “Conto com você para manter os dois na linha.”
Sandman sorriu e bateu continência para mim, evocando uma lembrança de uma época mais tranqüila que aquela. Mesmo depois de tanto tempo, ainda conseguia lembrar-me do cheiro das especiarias... ouvir a risada dos meus amados, sentir a felicidade do momento... a agitação dos instrumentos...
Mas o barulho de bato rachado e chicotes estalando estilhaçaram minha paz, e uma voz amiga me trouxe de volta ao tempo presente.
“...está bem?” Coelhão perguntava, segurando meus ombros. A preocupação havia voltado a seus olhos e ele parecia mais alto. “O que foi?”
Franzi a testa, olhando para baixo e percebendo que estava no chão. O que certamente explicava o gelo nos meus pés.
“Não é nada. Só lembranças... ” Assegurei, erguendo-me no ar. Olhei para o portal de luz, que continuava a brilhar no meio da sala. “Tenho que ir. Vocês, tomem cuidado e mantenham-se unidos.”
Os três assentiram e Sand os apertou num laço de poeira dourada, reforçando sua palavra. Dei-lhes meu melhor sorriso e voei como um ás para o portal. Enquanto o atravessava, meus medos se dissiparam e uma onda de paz me inundou.
Tudo vai ficar bem, Toothiana. O Homem da Lua disse em minha mente.
E como sempre, acreditei nele.

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